“A Coreia do Norte pode roubar o Natal, mas nunca vai nos tirar o Emanuel”, diz fugitivo

Um cristão que conseguiu fugir do sistema opressor disse que os norte-coreanos são obrigados a comemorar o aniversário da vó de Kim Jon-un na véspera de Natal.

Fonte: Guiame, com informações de Portas AbertasAtualizado: sexta-feira, 19 de novembro de 2021 às 14:07
Norte-coreano. (Foto meramente ilustrativa: Portas Abertas)
Norte-coreano. (Foto meramente ilustrativa: Portas Abertas)

Um fugitivo norte-coreano chamado Timothy Cho (nome fictício por razões de segurança), revelou alguns detalhes sobre como é ser cristão no país mais fechado do mundo, em especial, quando está chegando a época natalina.

Ele conta que as autoridades norte-coreanas proibiram completamente a celebração do Natal. Além disso, determinaram que na véspera de Natal todos devem comemorar o aniversário de Kim Jong-suk, a avó de Kim Jong-un.

Kim Jong-suk foi a primeira esposa do fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung. A ativista comunista, que nasceu em 24 de dezembro de 1917 e faleceu em 1949, é vista historicamente em seu país como uma “imortal revolucionária”.

Idolatria e paranoia ditatorial

A guerrilheira entrou numa espécie de “santíssima trindade”, ao lado de dois generais e ficou conhecida pelo povo norte-coreano como “uma heroína inigualável”. Em sua cidade, Hoeryong, há um museu, uma biblioteca, uma estátua e uma praça em homenagem à “mãe da Coreia”.

Mas aqueles que decidiram seguir a Cristo, não podem sequer dizer seu nome, principalmente na véspera de Natal. Em vez de quaisquer expectativas esperançosas, comuns no Natal, o povo norte-coreano enfrenta opressão, fome e perseguição, conforme Cho.

“Quando penso neste país totalitário em dezembro, em vez de pensar em uma cena alegre de Natal, penso no drama sul-coreano Round 6, que se tornou popular este ano”, disse ao se referir à nova série da Netflix que retrata uma competição com jogos de vida ou morte.

“O povo norte-coreano não tem escolha a não ser ‘jogar o jogo’ criado pelas autoridades, seguindo regras sobre o que eles podem fazer e dizer, aonde podem ir e até mesmo o que podem pensar”, explicou.

Cho disse que se alguma das regras do governo não for seguida, as pessoas acabam na prisão ou mortas, principalmente os cristãos. 

 


Soldados costumam vigiar as pessoas perto dos monumentos e aqueles que não se curvam podem ser punidos e até presos por falta de reverência. (Foto: Portas Abertas)

Um falso Natal

De acordo com o cristão fugitivo, quando chegar dezembro na Coreia do Norte, haverá cantos em escolas, fábricas, universidades e reuniões públicas, como alternativa aos cânticos natalinos.

Ele compartilha que há uma história por trás de Kim Jong-suk que tenta, de alguma forma, imitar a história de Jesus. “Contam que ela deu à luz Kim Jong-il na montanha Paetu, na Coreia do Norte, e havia uma estrela brilhante que apareceu acima da casa onde ele nasceu”, especificou.

“Na verdade, Kim Jong-il nasceu na Rússia, mas até agora essa história distorcida continua a ser contada às crianças desde bem pequenas”, esclareceu.

“Por mais de 73 anos, a Coreia do Norte roubou as celebrações de Natal e as substituiu por celebrações da família Kim, moldando-as para se parecerem com o Natal. Tudo isso faz parte do culto à família Kim, que exige que o povo da Coreia do Norte celebre seus aniversários”, continuou.

Idolatria imposta

Cho também conta que o povo é obrigado a se inclinar, diariamente, diante das dezenas de milhares de monumentos da família Kim. “Mostrar qualquer coisa menos do que lealdade total à família Kim leva à punição e quase à morte certa”, disparou.

“O que me deixa particularmente triste é que as crianças norte-coreanas nem sabem o que é o Natal. É uma época muito feliz para as crianças em outras partes do mundo, mas na Coreia do Norte, crianças que estão morrendo de fome, órfãs e deixadas nas ruas, como aconteceu comigo, são encorajadas a cantar outras canções”, revelou.

Entre os cânticos, ele diz que existe um que diz o seguinte: “Nós não temos nada a invejar no mundo. O céu está azul, meu coração está feliz, deixe o som do acordeão. Meu país, onde as pessoas vivem em harmonia, é infinitamente bom”.

Outro trecho deixa claro a manipulação inserida nas letras: “Nosso pai, Kim Il-sung, nossa casa é o seio da festa. Somos todos irmãos e irmãs, e não temos nada a invejar no mundo”.


Por conta da fome intensa, muitos norte-coreanos vão para as montanhas recolher qualquer erva, mato ou grama para comer. (Foto: Portas Abertas)

Emanuel — Deus conosco

“O amor não é amor se for forçado. Só pode ser amor se houver uma escolha real. Essa escolha está completamente ausente na Coreia do Norte. O regime exige devoção e lealdade absoluta aos líderes do país”, reforçou.

Cho destaca o tempo todo, o amor paciente e gentil de Jesus. “Sua pregação era uma boa notícia para os pobres, proclamava a liberdade aos cativos e libertava os oprimidos. Seu nascimento foi uma boa notícia e trouxe esperança e salvação para a humanidade”, disse ao enfatizar o sentido do Natal.

Mas, os norte-coreanos vivem outra realidade ao serem obrigados a comemorar o aniversário da “mãe da Coreia”. Por isso, ele destaca “a importância das orações para o fortalecimento dos nossos irmãos e irmãs”. 

“A Coreia do Norte pode roubar o Natal, mas nunca vai nos tirar o Emanuel. Jesus está no coração de cada cristão norte-coreano clandestino. Ele sofreu por eles e com eles. Ele é o Emanuel, Deus conosco”, resumiu.

Atualmente, além da perseguição religiosa, os norte-coreanos vivem com escassez de alimento, que praticamente se esgotaram durante a pandemia. Até mesmo o comércio com a China, o principal fornecedor de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, foi interrompido. 

A falta de importações também levou à escassez de medicamentos. A segurança nas fronteiras foi aumentada, logo, fugir do país tornou-se um risco de vida ainda maior. 

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