Daniel Ramos é professor de teologia deste 2013 pela EBPS (Assembleia de Deus em Belo Horizonte). Graduado em Teologia pela PUC Minas (2013), pós-graduação em Gestão de Pessoas pela PUC Minas (2015), especialista em Docência em Letras e

Daniel Ramos

A busca pela verdade &eacute; intr&iacute;nseca &agrave; natureza humana. Fil&oacute;sofos, cientistas e te&oacute;logos dedicaram suas vidas a desvendar os mist&eacute;rios da realidade, buscando um conhecimento s&oacute;lido e confi&aacute;vel. No entanto, em meio a essa busca, emerge um perigoso sofisma: a ideia de que a verdade deve ser defendida e propagada "a qualquer pre&ccedil;o", sem considerar os meios utilizados ou as consequ&ecirc;ncias geradas. Esta disserta&ccedil;&atilde;o visa analisar criticamente esse sofisma &agrave; luz da perspectiva b&iacute;blico-teol&oacute;gica, explorando seus perigos e apresentando uma resposta fundamentada nos princ&iacute;pios e ensinamentos das Escrituras.
O sofisma da "verdade a qualquer pre&ccedil;o" se manifesta de diversas formas. Pode envolver a dissemina&ccedil;&atilde;o de informa&ccedil;&otilde;es incompletas ou distorcidas, a manipula&ccedil;&atilde;o de fatos, o uso de linguagem agressiva e desrespeitosa, a demoniza&ccedil;&atilde;o de oponentes e at&eacute; mesmo a viol&ecirc;ncia f&iacute;sica ou psicol&oacute;gica. A justificativa por tr&aacute;s dessas a&ccedil;&otilde;es reside na cren&ccedil;a de que, possuindo a verdade, o fim justifica os meios. Aqueles que aderem a esse sofisma se veem como paladinos da verdade, autorizados a transgredir princ&iacute;pios &eacute;ticos e morais em nome de um bem maior supostamente alcan&ccedil;ado pela sua vit&oacute;ria.
Do ponto de vista b&iacute;blico-teol&oacute;gico, essa perspectiva &eacute; profundamente problem&aacute;tica e contr&aacute;ria &agrave; natureza de Deus e aos seus mandamentos. A B&iacute;blia revela um Deus que &eacute; a pr&oacute;pria verdade (Jo&atilde;o 14:6), mas que tamb&eacute;m &eacute; amor (1 Jo&atilde;o 4:8). Esses dois atributos divinos n&atilde;o s&atilde;o mutuamente exclusivos, mas intrinsecamente ligados. A verdade de Deus &eacute; sempre expressa e comunicada em um contexto de amor, gra&ccedil;a e miseric&oacute;rdia.
Jesus Cristo, a encarna&ccedil;&atilde;o da Verdade, exemplificou essa uni&atilde;o perfeita. Ele confrontou a falsidade e a hipocrisia com clareza e firmeza, mas sempre com compaix&atilde;o e buscando a restaura&ccedil;&atilde;o do indiv&iacute;duo. Seus ensinamentos enfatizam a import&acirc;ncia da integridade, da honestidade e do amor ao pr&oacute;ximo, mesmo &agrave;queles que discordam ou se op&otilde;em a n&oacute;s (Mateus 5:44). A verdade proclamada sem amor se torna fria, distante e potencialmente destrutiva.
Al&eacute;m disso, a B&iacute;blia adverte repetidamente contra a cal&uacute;nia, a difama&ccedil;&atilde;o e o falso testemunho (&Ecirc;xodo 20:16; Prov&eacute;rbios 6:16-19). A busca pela verdade n&atilde;o pode justificar a propaga&ccedil;&atilde;o de mentiras ou a manipula&ccedil;&atilde;o da informa&ccedil;&atilde;o para desacreditar o outro. O ap&oacute;stolo Paulo exorta os crist&atilde;os a falarem a verdade em amor (Ef&eacute;sios 4:15), reconhecendo que a forma como a verdade &eacute; comunicada &eacute; t&atilde;o importante quanto o seu conte&uacute;do. Uma verdade dita com raiva, arrog&acirc;ncia ou desprezo pode gerar mais divis&atilde;o e ressentimento do que compreens&atilde;o e convers&atilde;o.
A teologia crist&atilde; tamb&eacute;m nos ensina sobre a falibilidade humana e a natureza pecaminosa do homem. A cren&ccedil;a de que possu&iacute;mos a verdade absoluta e que, portanto, estamos autorizados a impor essa verdade a qualquer custo, ignora a nossa pr&oacute;pria capacidade de erro e a complexidade da realidade. A humildade intelectual e o reconhecimento da necessidade de di&aacute;logo e escuta s&atilde;o virtudes essenciais na busca e na comunica&ccedil;&atilde;o da verdade.
A resposta b&iacute;blico-teol&oacute;gica ao sofisma da "verdade a qualquer pre&ccedil;o" reside em uma abordagem que integra verdade e amor, justi&ccedil;a e miseric&oacute;rdia. Essa resposta se fundamenta nos seguintes princ&iacute;pios:
- A Primazia do Amor: O amor &eacute; o mandamento supremo (Mateus 22:37-40) e deve guiar todas as nossas a&ccedil;&otilde;es, incluindo a busca e a comunica&ccedil;&atilde;o da verdade. A verdade sem amor se torna legalismo e opress&atilde;o.
- A Import&acirc;ncia da Integridade: A verdade deve ser comunicada com honestidade, transpar&ecirc;ncia e respeito pela dignidade do outro. A manipula&ccedil;&atilde;o, a distor&ccedil;&atilde;o e a cal&uacute;nia s&atilde;o incompat&iacute;veis com o car&aacute;ter de Deus e com o testemunho crist&atilde;o.
- A Humildade Intelectual: Reconhecer a nossa pr&oacute;pria falibilidade e a complexidade da verdade nos leva a abordar o di&aacute;logo com humildade e abertura para aprender com os outros.
- O Discernimento e a Sabedoria: A B&iacute;blia nos exorta a buscar sabedoria e discernimento para comunicar a verdade de forma eficaz e relevante para cada contexto (Prov&eacute;rbios 2:6; Colossenses 4:6).
- O Exemplo de Cristo: Jesus &eacute; o modelo supremo de como a verdade deve ser vivida e comunicada. Sua vida e seus ensinamentos demonstram a perfeita uni&atilde;o entre a firmeza da verdade e a compaix&atilde;o do amor.
Em conclus&atilde;o, o sofisma da "verdade a qualquer pre&ccedil;o" &eacute; uma armadilha perigosa que desvirtua a pr&oacute;pria natureza da verdade e contradiz os princ&iacute;pios fundamentais da f&eacute; crist&atilde;. A resposta b&iacute;blico-teol&oacute;gica nos convida a uma busca pela verdade que seja pautada pelo amor, pela integridade, pela humildade e pela sabedoria, seguindo o exemplo de Jesus Cristo. Somente assim poderemos comunicar a verdade de forma eficaz e transformadora, construindo pontes de entendimento e promovendo a reconcilia&ccedil;&atilde;o em um mundo muitas vezes marcado pela polariza&ccedil;&atilde;o e pela viol&ecirc;ncia em nome de ideologias supostamente verdadeiras. A verdade, para ser genu&iacute;na e frut&iacute;fera, deve sempre ser acompanhada pelo amor, o elo perfeito (Colossenses 3:14).
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Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) &eacute; professor, possui Licenciatura em Letras Portugu&ecirc;s-Ingl&ecirc;s (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). P&oacute;s-graduado em Doc&ecirc;ncia em Letras e Pr&aacute;ticas Pedag&oacute;gicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente &eacute; colunista do Portal Guia-me, professor de L&iacute;ngua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino M&eacute;dio e de L&iacute;ngua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Portugu&ecirc;s Instrumental do IE S&atilde;o Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito (IETEB, 2025). Al&eacute;m de possuir mais de 20 anos de experi&ecirc;ncia na ministra&ccedil;&atilde;o da Palavra. &Eacute; membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/daniel-ramos/o-conceito-da-janela-de-overton-na-igreja-evangelica.html">O conceito da Janela de Overton na igreja evang&eacute;lica</a>

Uma análise bíblico-teológica.

O sofisma da verdade a qualquer preço 

A paz do Senhor, amados. A Janela de Overton, ou Janela do Discurso, &eacute; um conceito que descreve a gama de ideias que s&atilde;o consideradas aceit&aacute;veis ou toler&aacute;veis no debate p&uacute;blico em um determinado momento. O nome vem de Joseph P. Overton, que criou esse modelo para explicar como as ideias transitam de impens&aacute;veis a amplamente aceitas. Pense nisso como um "espectro" de opini&otilde;es sobre um determinado assunto. Em qualquer sociedade, existem ideias que s&atilde;o:
- Impens&aacute;veis: Ideias que s&atilde;o completamente fora do que se considera aceit&aacute;vel, consideradas absurdas ou extremas.
- Radicais: Ideias que s&atilde;o defendidas por grupos minorit&aacute;rios, mas ainda n&atilde;o t&ecirc;m grande aceita&ccedil;&atilde;o.
- Aceit&aacute;veis: Ideias que a maioria das pessoas considera razo&aacute;veis e podem ser discutidas abertamente.
- Sensatas/Pol&iacute;ticas: Ideias que s&atilde;o consideradas vi&aacute;veis e podem se tornar pol&iacute;ticas p&uacute;blicas.
- Populares: Ideias que s&atilde;o amplamente aceitas e at&eacute; esperadas pela maioria.
A Janela de Overton n&atilde;o &eacute; fixa; ela pode se deslocar ao longo do tempo. O que era impens&aacute;vel no passado pode se tornar aceit&aacute;vel e at&eacute; popular no futuro, e vice-versa. Esse deslocamento geralmente ocorre de forma gradual, atrav&eacute;s da introdu&ccedil;&atilde;o e discuss&atilde;o de ideias que, a princ&iacute;pio, podem parecer radicais.
Na pr&aacute;tica, o conceito sugere que, ao introduzir e discutir ideias que est&atilde;o fora da janela de aceitabilidade atual, &eacute; poss&iacute;vel alterar a percep&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica. Por exemplo, um grupo pode come&ccedil;ar a defender uma ideia "radical" de forma persistente, o que, com o tempo, pode fazer com que essa ideia se torne menos chocante, depois toler&aacute;vel, e, eventualmente, aceit&aacute;vel e at&eacute; considerada para implementa&ccedil;&atilde;o.
Pol&iacute;ticos, ativistas e outros atores sociais podem tentar "empurrar" ou "deslocar" a Janela de Overton para que suas pr&oacute;prias ideias, que antes seriam rejeitadas, passem a ser vistas como parte do consenso ou, pelo menos, como uma op&ccedil;&atilde;o vi&aacute;vel. Entender a Janela de Overton &eacute; crucial para:
- Analisar o debate p&uacute;blico: Permite identificar quais ideias est&atilde;o em ascens&atilde;o ou decl&iacute;nio na aceita&ccedil;&atilde;o social.
- Compreender a mudan&ccedil;a social: Ajuda a entender como certas pautas ganham ou perdem for&ccedil;a ao longo do tempo.
- Desenvolver estrat&eacute;gias de comunica&ccedil;&atilde;o: Seja para defender uma ideia ou para resistir a uma mudan&ccedil;a, &eacute; importante saber como as percep&ccedil;&otilde;es podem ser moldadas.
Em resumo, a Janela de Overton &eacute; uma ferramenta te&oacute;rica que nos ajuda a compreender a din&acirc;mica da opini&atilde;o p&uacute;blica e como as ideias evoluem de "impens&aacute;veis" a "normais" em uma sociedade.
Aplicar o conceito da Janela de Overton &agrave; Igreja Evang&eacute;lica no Brasil &eacute; um exerc&iacute;cio interessante para entender as din&acirc;micas internas e a rela&ccedil;&atilde;o desse segmento com a sociedade mais ampla. &Eacute; importante ressaltar que a &ldquo;Igreja Evang&eacute;lica&rdquo; n&atilde;o &eacute; um bloco monol&iacute;tico; ela &eacute; composta por uma vasta gama de denomina&ccedil;&otilde;es, com diferentes teologias, pr&aacute;ticas e posicionamentos. No entanto, podemos identificar certas ideias que transitam na janela de aceitabilidade dentro desse universo.
A Janela de Overton na Igreja Evang&eacute;lica - Observa&ccedil;&otilde;es Gerais: 
A janela de Overton para a Igreja Evang&eacute;lica brasileira tende a ser mais conservadora em compara&ccedil;&atilde;o com a sociedade secular brasileira em diversos aspectos. Isso significa que ideias consideradas "radicais" ou "impens&aacute;veis" dentro do meio evang&eacute;lico podem j&aacute; ser aceitas ou mesmo populares na sociedade em geral, e vice-versa.
Exemplos de ideias e seu posicionamento na Janela de Overton Evang&eacute;lica:
1. Quest&otilde;es de G&ecirc;nero e Sexualidade: 
Ideias Populares/Sensatas (no meio evang&eacute;lico mais conservador): Casamento heterossexual como &uacute;nica uni&atilde;o aben&ccedil;oada por Deus. Pap&eacute;is de g&ecirc;nero tradicionais (homem provedor/l&iacute;der, mulher cuidadora/ajudadora). Abstin&ecirc;ncia sexual antes do casamento.
Ideias Aceit&aacute;veis/Discut&iacute;veis (em c&iacute;rculos mais abertos): Discuss&atilde;o sobre a viol&ecirc;ncia contra a mulher. Abertura para o di&aacute;logo com a comunidade LGBTQIA+ (embora sem endosso de pr&aacute;ticas).
Ideias Radicais/Impens&aacute;veis (para a maioria conservadora, mas presentes em movimentos progressistas): Aceita&ccedil;&atilde;o plena de pessoas LGBTQIA+ no minist&eacute;rio e lideran&ccedil;a. Casamento homoafetivo. Teologias feministas que questionam hierarquias de g&ecirc;nero.
2. Pol&iacute;tica e Ativismo Social: 
Ideias Populares/Sensatas: Participa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica para defender "valores crist&atilde;os" (anti-aborto, anti-"ideologia de g&ecirc;nero"). Assistencialismo e obras de caridade. Apoio a pol&iacute;ticos que se alinham com a pauta evang&eacute;lica conservadora.
Ideias Aceit&aacute;veis/Discut&iacute;veis: Discuss&atilde;o sobre justi&ccedil;a social e combate &agrave; pobreza (Teologia da Miss&atilde;o Integral, embora haja diferentes interpreta&ccedil;&otilde;es). Engajamento em pautas de direitos humanos (com ressalvas).
Ideias Radicais/Impens&aacute;veis (para a maioria, mas presentes em minorias): Alinhamento com movimentos sociais progressistas (movimentos LGBT, feministas, raciais). Teologia da Liberta&ccedil;&atilde;o (historicamente mais associada ao catolicismo, mas com nuances em algumas alas evang&eacute;licas). Cr&iacute;tica aberta &agrave; instrumentaliza&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica da f&eacute;.
3. Teologia e Doutrina: 
Ideias Populares/Sensatas: A centralidade da B&iacute;blia como Palavra de Deus. A salva&ccedil;&atilde;o pela f&eacute; em Jesus Cristo. A import&acirc;ncia da evangeliza&ccedil;&atilde;o e miss&otilde;es.
Ideias Aceit&aacute;veis/Discut&iacute;veis: Diferentes interpreta&ccedil;&otilde;es sobre dons espirituais (pentecostalismo vs. tradicionalismo). Debates sobre escatologia (fim dos tempos).
Ideias Radicais/Impens&aacute;veis: Questionamento da inerr&acirc;ncia b&iacute;blica. Rejei&ccedil;&atilde;o de dogmas centrais do cristianismo.
Como a Janela de Overton se move na Igreja Evang&eacute;lica:
Influ&ecirc;ncia Externa: A Janela de Overton da sociedade secular pode exercer press&atilde;o sobre a Igreja Evang&eacute;lica. Por exemplo, &agrave; medida que a aceita&ccedil;&atilde;o de pautas LGBTQIA+ cresce na sociedade, alguns segmentos evang&eacute;licos podem sentir a necessidade de reavaliar suas posi&ccedil;&otilde;es, mesmo que minimamente, para evitar alienar fi&eacute;is ou se tornarem totalmente irrelevantes para as novas gera&ccedil;&otilde;es.
Movimentos Internos: Existem movimentos "progressistas" dentro da Igreja Evang&eacute;lica (como evang&eacute;licos de esquerda, evang&eacute;licos antirracistas, evang&eacute;licos pela diversidade) que atuam para deslocar a janela, introduzindo e defendendo ideias que antes eram consideradas impens&aacute;veis. Eles desafiam as narrativas hegem&ocirc;nicas e buscam uma releitura da f&eacute; &agrave; luz de quest&otilde;es sociais contempor&acirc;neas.
Lideran&ccedil;as e M&iacute;dia: Pastores influentes, te&oacute;logos e plataformas de m&iacute;dia evang&eacute;lica desempenham um papel crucial na moldagem da Janela de Overton. Eles podem tanto refor&ccedil;ar o conservadorismo quanto abrir espa&ccedil;o para novas discuss&otilde;es.
Crises e Desafios: Eventos sociais, pol&iacute;ticos ou crises internas podem levar a reavalia&ccedil;&otilde;es de posi&ccedil;&otilde;es e, consequentemente, a um deslocamento da Janela de Overton em algumas &aacute;reas.
&Eacute; um processo cont&iacute;nuo e muitas vezes lento, onde h&aacute; uma constante tens&atilde;o entre a manuten&ccedil;&atilde;o de tradi&ccedil;&otilde;es e a adapta&ccedil;&atilde;o a novas realidades sociais e teol&oacute;gicas. A Janela de Overton nos ajuda a visualizar essa din&acirc;mica e entender por que certas ideias ganham ou perdem tra&ccedil;&atilde;o dentro do universo evang&eacute;lico brasileiro.
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Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) &eacute; professor, possui Licenciatura em Letras Portugu&ecirc;s-Ingl&ecirc;s (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). P&oacute;s-graduado em Doc&ecirc;ncia em Letras e Pr&aacute;ticas Pedag&oacute;gicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente &eacute; colunista do Portal Guia-me, professor de L&iacute;ngua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino M&eacute;dio e de L&iacute;ngua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Portugu&ecirc;s Instrumental do IE S&atilde;o Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito (IETEB, 2025). Al&eacute;m de possuir mais de 20 anos de experi&ecirc;ncia na ministra&ccedil;&atilde;o da Palavra. &Eacute; membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/daniel-ramos/maldicao-do-poder-viver-cercado-de-bajuladores.html">A maldi&ccedil;&atilde;o do poder: Viver cercado de bajuladores</a>

A questão da narrativa com propósitos estranhos. 

O conceito da Janela de Overton na igreja evangélica 

Amados, a paz do Senhor. A Doutrina nos ensina sobre as tr&ecirc;s linhas da tenta&ccedil;&atilde;o. Todos n&oacute;s temos fraquezas em uma delas (ou em todas). &Eacute; inevit&aacute;vel, tal situa&ccedil;&atilde;o, pois fomos gerados sob o pecado. As tenta&ccedil;&otilde;es de Jesus (Mateus 4:1-11, Marcos 1:12-13 e Lucas 4:1-13) resumem as &ldquo;tenta&ccedil;&otilde;es humanas fundamentais&rdquo;:
1. Ter &rarr; Materialismo e autossufici&ecirc;ncia.
2. Poder &rarr; Ambi&ccedil;&atilde;o e idolatria do sucesso.
3. Prazer &rarr; Satisfa&ccedil;&atilde;o superficial e busca de sinais espetaculares.
Jesus venceu n&atilde;o por sua divindade, mas como homem obediente (Hebreus 4:15), mostrando que a verdadeira vit&oacute;ria est&aacute; na submiss&atilde;o &agrave; vontade de Deus e na fidelidade &agrave;s Escrituras. Sua resposta sempre foi: "Est&aacute; escrito..." (Mateus 4:4, 7, 10). Para hoje, a narrativa desafia os crist&atilde;os a discernir suas pr&oacute;prias tenta&ccedil;&otilde;es e a resistirem, n&atilde;o com for&ccedil;a pr&oacute;pria, mas com a Palavra de Deus e a confian&ccedil;a em Sua provid&ecirc;ncia.
Para Agostinho, a tenta&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se limita a um apelo externo e isolado ao pecado. Ela se enra&iacute;za na pr&oacute;pria condi&ccedil;&atilde;o humana fragilizada pela Queda, manifestando-se atrav&eacute;s da concupisc&ecirc;ncia. Nas &ldquo;Confiss&otilde;es&rdquo;, essa concupisc&ecirc;ncia emerge como um desejo desordenado, uma inclina&ccedil;&atilde;o da alma para os prazeres sensoriais, para a vaidade e para a satisfa&ccedil;&atilde;o ego&iacute;sta. As mem&oacute;rias de sua juventude turbulenta, marcada por paix&otilde;es carnais intensas e pela busca incessante por reconhecimento social, ilustram vividamente o poder dessa for&ccedil;a interior que o arrastava para longe de Deus. A tenta&ccedil;&atilde;o se apresenta, assim, como uma voz sedutora que ecoa nos recessos da alma, prometendo felicidade e satisfa&ccedil;&atilde;o em bens ef&ecirc;meros e ilus&oacute;rios.
Para C. S. Lewis, enquanto &ldquo;As Cr&ocirc;nicas de N&aacute;rnia&rdquo; ilustram a natureza da tenta&ccedil;&atilde;o atrav&eacute;s de narrativas aleg&oacute;ricas com personagens bem definidos e consequ&ecirc;ncias vis&iacute;veis, &ldquo;Cartas de um Diabo a seu Aprendiz&rdquo; oferece uma an&aacute;lise teol&oacute;gica e psicol&oacute;gica mais direta, expondo as estrat&eacute;gias sutis e multifacetadas do mal na busca por desviar a humanidade de Deus.
Ambas as obras, no entanto, convergem na apresenta&ccedil;&atilde;o da tenta&ccedil;&atilde;o como uma for&ccedil;a poderosa e insidiosa que explora as fraquezas humanas, mas que pode ser resistida com a gra&ccedil;a divina e a vigil&acirc;ncia constante.
Apesar de ter me alongado no tema da tenta&ccedil;&atilde;o, o usei como introdu&ccedil;&atilde;o para algo muito pior. Evidentemente, n&atilde;o condeno o poder como algo ruim, mas observo o &ocirc;nus e o b&ocirc;nus de t&ecirc;-lo. E a pergunta que n&atilde;o quer calar: &ldquo;vale a pena?&rdquo; A tenta&ccedil;&atilde;o do PODER (adora&ccedil;&atilde;o a Satan&aacute;s em troca dos reinos do mundo): &ldquo;Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares&rdquo; (Mateus 4:9).
Satan&aacute;s oferece a Jesus todos os reinos do mundo, desde que Ele o adore. Era uma proposta de poder r&aacute;pido, sem passar pela cruz. Representa a tenta&ccedil;&atilde;o do poder pol&iacute;tico, fama ou dom&iacute;nio f&aacute;cil, corrompendo os meios para alcan&ccedil;ar fins supostamente nobres. Jesus responde citando Deuteron&ocirc;mio 6:13: &ldquo;Ao Senhor, teu Deus, adorar&aacute;s e s&oacute; a Ele servir&aacute;s&rdquo;. Rejeita qualquer atalho que desvie o homem de sua voca&ccedil;&atilde;o primordial: adorar a Deus. Reflex&atilde;o: &ldquo;Quantos sacrificam princ&iacute;pios &eacute;ticos ou espirituais em busca de sucesso ou influ&ecirc;ncia?&rdquo;
Mas os poderosos nunca v&atilde;o nos contar &ldquo;a maldi&ccedil;&atilde;o do poder&rdquo; &mdash; aos desavisados, isso &eacute; uma met&aacute;fora &mdash; viver cercado de bajuladores. Em s&iacute;ntese, um bajulador &eacute; algu&eacute;m que elogia de forma exagerada e insincera outra pessoa, geralmente com o objetivo de obter algum favor, vantagem ou aprova&ccedil;&atilde;o. A bajula&ccedil;&atilde;o se distingue do elogio genu&iacute;no pela sua motiva&ccedil;&atilde;o interesseira e pela falta de sinceridade.
A grande maioria dos poderosos at&eacute; apreciam sem cercados de bajuladores, ali&aacute;s, quem gosta de estar perto de pessoas que trazem not&iacute;cias ruins ou nos confronta? Sobre tudo que essas cr&iacute;ticas conflitam com a nossa perspectiva? O ego humano ama ser massageado. Ainda que a trag&eacute;dia seja certa, melhor a ilus&atilde;o do &ldquo;vai ficar tudo bem&rdquo;. Algo como: &ldquo;entre mortos e feridos, salvaram-se todos&rdquo;. E &ldquo;a gente vai empurrando com a barriga&rdquo; (esse &eacute; o preferido da minha v&oacute;).
Fazer cr&iacute;ticas ao poder secular &eacute; quase que chover no molhado. O problema &eacute; quando esse &ldquo;mundanismo&rdquo; afeta o cora&ccedil;&atilde;o das lideran&ccedil;as &ldquo;que o Senhor supostamente levantou&rdquo;. Sim, supostamente, pois ao crivo b&iacute;blico, o Esp&iacute;rito certamente rejeita muitos desses nomes. Por uma quest&atilde;o &oacute;bvia: &ldquo;nem s&atilde;o crentes!&rdquo; Mas o povo ama ser governado por Saul, egoc&ecirc;ntrico, interesseiro e autossuficiente. Um rei levantado porque o povo de Deus queria ser governado como as outras na&ccedil;&otilde;es (1 Samuel 8). A receita da desgra&ccedil;a: o povo de Deus quer ser como os outros povos. A igreja evang&eacute;lica embriagada pelo poder a semelhan&ccedil;a da igreja cat&oacute;lica. E quem menos tem &ldquo;poder&rdquo;, acumula outros mais.
E os conselheiros do rei, como se comportavam diante da rejei&ccedil;&atilde;o de Deus e tamb&eacute;m pelo povo. Sim, o mesmo povo que coloca o rei no trono, o rejeita. O &ldquo;tiro sai pela culatra&rdquo;. Um povo que era governado pelo pr&oacute;prio Senhor, guiado pelos conselhos do sacerdote, quis uma corte humana igual a dos outros. O povo de Deus, esqueceu que &eacute; separado! Parece at&eacute; que ou&ccedil;o o grito da minha m&atilde;e: &ldquo;voc&ecirc; n&atilde;o &eacute; todo mundo!&rdquo; 
Toda corte tem um bobo, mas pior &eacute; quando o rei &eacute; o pr&oacute;prio bobo. O reino desaba, ele ri, comemora n&uacute;meros fict&iacute;cios. O esvaziamento &eacute; vis&iacute;vel, mas prefere citar na tribuna os n&uacute;meros de &ldquo;crescimento&rdquo;. Uma psicose coletiva: a voz do rei n&atilde;o &eacute; vazia, &eacute; endossada pelos seus bajuladores. Homens que deviam cumprir o papel de trazer a verdade aos olhos do rei, endossam a mentira, comemoram fantasias, d&atilde;o gra&ccedil;as pelo que n&atilde;o existe.
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Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) &eacute; professor, possui Licenciatura em Letras Portugu&ecirc;s-Ingl&ecirc;s (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). P&oacute;s-graduado em Doc&ecirc;ncia em Letras e Pr&aacute;ticas Pedag&oacute;gicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente &eacute; colunista do Portal Guia-me, professor de L&iacute;ngua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino M&eacute;dio e de L&iacute;ngua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Portugu&ecirc;s Instrumental do IE S&atilde;o Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito (IETEB, 2025). Al&eacute;m de possuir mais de 20 anos de experi&ecirc;ncia na ministra&ccedil;&atilde;o da Palavra. &Eacute; membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/daniel-ramos/apropriacao-ideologica-e-subversao-do-evangelho.html">A apropria&ccedil;&atilde;o ideol&oacute;gica e a subvers&atilde;o do Evangelho</a>

Nada pior quando o bobo da corte é o próprio rei.

A maldição do poder: Viver cercado de bajuladores 

A figura de Jesus Cristo, transcendendo as fronteiras da f&eacute; institucional, tem sido frequentemente cooptada e reinterpretada por diversas ideologias e movimentos, buscando legitimar suas agendas e encontrar respaldo em sua autoridade moral e espiritual. Essa apropria&ccedil;&atilde;o ideol&oacute;gica, ao moldar Jesus &agrave; imagem de projetos terrenos, muitas vezes subverte a ess&ecirc;ncia do Evangelho e reduz a complexidade do Salvador a categorias simplistas e convenientes.
Ao explorarmos o "Jesus Pol&iacute;tico", o "Cristo da Prosperidade", o "Jesus da Toler&acirc;ncia Seletiva", o "Cristo da Autoajuda", o "Jesus da Revolu&ccedil;&atilde;o" e o "Cristo Cultural", podemos discernir as maneiras pelas quais a mensagem transformadora de Jesus &eacute; distorcida e utilizada para fins que, muitas vezes, s&atilde;o antit&eacute;ticos ao seu pr&oacute;prio ensinamento e exemplo.
O Jesus Pol&iacute;tico: Quando a F&eacute; &eacute; Subjugada a Agendas Terrenas representa uma das formas mais recorrentes de apropria&ccedil;&atilde;o ideol&oacute;gica. Ao longo da hist&oacute;ria, diferentes movimentos pol&iacute;ticos t&ecirc;m buscado em Jesus um precursor de suas pr&oacute;prias causas, seja na defesa de sistemas de poder estabelecidos ou na promo&ccedil;&atilde;o de ideologias revolucion&aacute;rias. A complexidade dos ensinamentos de Jesus sobre justi&ccedil;a, amor ao pr&oacute;ximo e o Reino de Deus &eacute; frequentemente reduzida a slogans e princ&iacute;pios que se encaixam em plataformas pol&iacute;ticas espec&iacute;ficas.
O perigo reside em instrumentalizar a f&eacute; para fins partid&aacute;rios, obscurecendo a natureza transcendente do Reino de Deus e a mensagem de transforma&ccedil;&atilde;o individual e espiritual que Jesus proclamou. Ao identificar Jesus com uma agenda pol&iacute;tica particular, corre-se o risco de limitar sua mensagem a um contexto temporal e geogr&aacute;fico espec&iacute;fico, perdendo sua universalidade e seu poder de confrontar todas as estruturas de poder com os valores do Evangelho.
O Cristo da Prosperidade: A Apropria&ccedil;&atilde;o para Fins Materialistas &eacute; uma ideologia que floresceu especialmente no s&eacute;culo XX e XXI, reinterpretando a b&ecirc;n&ccedil;&atilde;o divina em termos primariamente financeiros e materiais. Jesus, cujos ensinamentos frequentemente alertavam contra a busca por riquezas e enfatizavam a primazia do Reino de Deus e da justi&ccedil;a (Mateus 6:19-33), &eacute; transformado em um meio para alcan&ccedil;ar sucesso material e bem-estar terreno.
Essa apropria&ccedil;&atilde;o ignora as passagens b&iacute;blicas que falam sobre o sofrimento, a persegui&ccedil;&atilde;o e a ren&uacute;ncia como partes da experi&ecirc;ncia crist&atilde; (Mateus 5:10-12, Filipenses 1:29) e reduz a profundidade da reden&ccedil;&atilde;o a uma f&oacute;rmula para a obten&ccedil;&atilde;o de bens materiais. O "Cristo da Prosperidade" domestica o radical chamado de Jesus a uma vida de desapego e servi&ccedil;o, substituindo a busca por tesouros celestiais pela ambi&ccedil;&atilde;o de acumular riquezas terrenas.
O Jesus da Toler&acirc;ncia Seletiva: Ignorando Suas Palavras Desafiadoras &eacute; uma apropria&ccedil;&atilde;o que enfatiza o amor e a aceita&ccedil;&atilde;o de Jesus, muitas vezes em detrimento de suas palavras mais desafiadoras sobre pecado, ju&iacute;zo e a necessidade de arrependimento (Marcos 1:15, Jo&atilde;o 3:36). Essa leitura seletiva busca um Jesus que seja primariamente um s&iacute;mbolo de inclus&atilde;o e aceita&ccedil;&atilde;o incondicional, ignorando as passagens que confrontam o pecado e chamam a uma transforma&ccedil;&atilde;o radical de vida.
Embora o amor e a inclus&atilde;o sejam aspectos centrais do Evangelho, eles n&atilde;o podem ser separados da verdade e do chamado &agrave; santidade. Um "Jesus da Toler&acirc;ncia Seletiva" corre o risco de diluir a for&ccedil;a transformadora de sua mensagem e de oferecer um conforto superficial que n&atilde;o confronta as ra&iacute;zes do sofrimento humano e da separa&ccedil;&atilde;o de Deus.
O Cristo da Autoajuda: Reduzindo a Reden&ccedil;&atilde;o a Empoderamento Pessoal &eacute; uma apropria&ccedil;&atilde;o que interpreta a obra de Jesus primariamente como um meio para alcan&ccedil;ar o bem-estar psicol&oacute;gico e o sucesso pessoal. A mensagem da cruz, do sacrif&iacute;cio e da depend&ecirc;ncia de Deus &eacute; frequentemente reinterpretada em termos de autoestima, autoconfian&ccedil;a e realiza&ccedil;&atilde;o pessoal.
Embora a f&eacute; possa trazer cura emocional e fortalecimento interior, reduzir a reden&ccedil;&atilde;o a um sistema de autoajuda ignora a dimens&atilde;o transcendente da salva&ccedil;&atilde;o, a necessidade de reconcilia&ccedil;&atilde;o com Deus e a transforma&ccedil;&atilde;o radical do cora&ccedil;&atilde;o e da mente que o Evangelho prop&otilde;e. O "Cristo da Autoajuda" centra o indiv&iacute;duo em si mesmo, em vez de direcion&aacute;-lo para a depend&ecirc;ncia de Deus e para o servi&ccedil;o ao pr&oacute;ximo, desvirtuando a ess&ecirc;ncia da mensagem crist&atilde;.
O Jesus da Revolu&ccedil;&atilde;o: Usurpando Sua Paz com Viol&ecirc;ncia Ideol&oacute;gica &eacute; uma apropria&ccedil;&atilde;o que busca em Jesus um l&iacute;der revolucion&aacute;rio, justificando a viol&ecirc;ncia e a luta armada em nome da justi&ccedil;a social ou da liberta&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica. Essa leitura ignora o claro ensinamento de Jesus sobre amar os inimigos, oferecer a outra face e buscar a paz (Mateus 5:38-48).
Embora a f&eacute; crist&atilde; possa e deva inspirar a busca por justi&ccedil;a e a oposi&ccedil;&atilde;o &agrave; opress&atilde;o, a viol&ecirc;ncia e a retalia&ccedil;&atilde;o s&atilde;o antit&eacute;ticas ao esp&iacute;rito do Evangelho. Usurpar a paz de Jesus com viol&ecirc;ncia ideol&oacute;gica distorce radicalmente sua mensagem e seu exemplo, transformando o Pr&iacute;ncipe da Paz em um &iacute;cone de conflito e destrui&ccedil;&atilde;o.
Finalmente, o Cristo Cultural: Moldando o Salvador &agrave; Imagem da Sociedade representa a tend&ecirc;ncia de adaptar a figura de Jesus aos valores e normas culturais predominantes. Em diferentes &eacute;pocas e contextos sociais, Jesus tem sido reinterpretado para se alinhar com as vis&otilde;es de mundo e as prioridades da cultura circundante.
Essa apropria&ccedil;&atilde;o pode levar &agrave; relativiza&ccedil;&atilde;o de seus ensinamentos mais desafiadores e &agrave; acomoda&ccedil;&atilde;o da f&eacute; aos padr&otilde;es seculares. Um "Cristo Cultural" perde sua capacidade de confrontar as injusti&ccedil;as e os &iacute;dolos de cada &eacute;poca, tornando-se um mero reflexo dos valores existentes em vez de uma for&ccedil;a transformadora que apela a padr&otilde;es mais elevados.
Em conclus&atilde;o, as diversas formas de apropria&ccedil;&atilde;o ideol&oacute;gica de Jesus Cristo demonstram a constante tenta&ccedil;&atilde;o de moldar o Salvador &agrave; imagem de agendas e valores terrenos. Seja no &acirc;mbito pol&iacute;tico, econ&ocirc;mico, social ou cultural, essas tentativas de "possuir" Jesus inevitavelmente distorcem a radicalidade do Evangelho e obscurecem a complexidade e a profundidade de sua pessoa e obra.
A verdadeira fidelidade a Jesus requer um compromisso com a totalidade de sua mensagem, reconhecendo sua transcend&ecirc;ncia sobre qualquer ideologia humana e permitindo que sua vida e seus ensinamentos nos confrontem e nos transformem, em vez de tentarmos domestic&aacute;-lo e utiliz&aacute;-lo para nossos pr&oacute;prios fins.
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Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) &eacute; professor, possui Licenciatura em Letras Portugu&ecirc;s-Ingl&ecirc;s (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). P&oacute;s-graduado em Doc&ecirc;ncia em Letras e Pr&aacute;ticas Pedag&oacute;gicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente &eacute; colunista do Portal Guia-me, professor de L&iacute;ngua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino M&eacute;dio e de L&iacute;ngua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Portugu&ecirc;s Instrumental do IE S&atilde;o Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito (IETEB, 2025). Al&eacute;m de possuir mais de 20 anos de experi&ecirc;ncia na ministra&ccedil;&atilde;o da Palavra. &Eacute; membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/daniel-ramos/quando-igreja-se-torna-um-lugar-de-solidao.html">Quando a igreja se torna um lugar de solid&atilde;o</a>

Confrontando os pretensos donos de Jesus.

A apropriação ideológica e a subversão do Evangelho 

Amados irm&atilde;os, a paz do Senhor. Desde sempre, fui evang&eacute;lico, sempre pertencente &agrave; mesma denomina&ccedil;&atilde;o crist&atilde;. E pretendo ouvir a trombeta tocar desta amada igreja a qual perten&ccedil;o. Eu preciso registrar essa informa&ccedil;&atilde;o para que ningu&eacute;m pense que eu sou um cr&iacute;tico da igreja. N&atilde;o!
De fato, a gente v&ecirc; e ouve muita coisa. Coisas que deviam ser evitadas, outras t&atilde;o simples, mas por falta de preparo das lideran&ccedil;as, se tornaram tempestades. Enfim, o resultado &eacute; &oacute;bvio: muita gente amargurada fora da igreja institucional, na grande maioria, por coisas simples, mas que causam dores intensas. E &eacute; preciso um tempo para se curar. Que o Senhor tenha miseric&oacute;rdia destes!
Para quem j&aacute; frequentou um curso de teologia, ou at&eacute; mesmo uma EBD, sabe que a palavra "igreja" possui m&uacute;ltiplos significados interligados: primariamente, refere-se &agrave; comunidade de pessoas que compartilham a f&eacute; em Jesus Cristo e buscam viver de acordo com seus ensinamentos, unidas pelo Esp&iacute;rito Santo; em um sentido mais amplo, pode designar uma denomina&ccedil;&atilde;o crist&atilde; espec&iacute;fica ou o conjunto universal dos crist&atilde;os; e, por extens&atilde;o, o termo tamb&eacute;m &eacute; utilizado para se referir ao edif&iacute;cio f&iacute;sico onde essa comunidade se re&uacute;ne para cultos, ora&ccedil;&otilde;es e outras atividades religiosas.
A igreja, por longos per&iacute;odos da hist&oacute;ria foi definida pelos termos &ldquo;mater et magistra&rdquo; (traduzido do latim como &ldquo;m&atilde;e e mestra&rdquo;) no sentido de que ela, a igreja, &ldquo;acolhe e ensina&rdquo;. Para os estudiosos da sociologia, a igreja &eacute; sempre vista como um lugar de &ldquo;pertencimento&rdquo;. A sociologia raramente trabalha as quest&otilde;es doutrin&aacute;rias ou m&iacute;sticas da f&eacute;, mas sim o seu contexto social, um lugar de perten&ccedil;a.
Mas o que significa &ldquo;pertencer&rdquo; a uma igreja? &Eacute; apenas frequent&aacute;-la e contribuir financeiramente&hellip; Ser&aacute; mesmo somente isso? Mas a realidade da &ldquo;comunidade de f&eacute;&rdquo; perde o seu sentido se a igreja for restrita a apenas essas duas realidades.
O termo "comunidade" refere-se a um grupo de indiv&iacute;duos que compartilham caracter&iacute;sticas, interesses, objetivos ou localiza&ccedil;&atilde;o geogr&aacute;fica em comum, estabelecendo entre si algum grau de intera&ccedil;&atilde;o, coes&atilde;o social e, frequentemente, um senso de identidade coletiva. Essa uni&atilde;o pode se manifestar em diferentes escalas e contextos, desde pequenas vizinhan&ccedil;as at&eacute; grandes grupos com afinidades culturais, profissionais ou ideol&oacute;gicas.
A &ldquo;partilha&rdquo; &eacute; o objeto central da comunidade de f&eacute; crist&atilde;, desde quando o pr&oacute;prio Senhor Jesus compartilhou o p&atilde;o na ceia pascal com seus disc&iacute;pulos. A &Uacute;ltima Ceia foi a &uacute;ltima refei&ccedil;&atilde;o que, de acordo com os Evangelhos, Jesus dividiu com seus disc&iacute;pulos em Jerusal&eacute;m antes de sua crucifica&ccedil;&atilde;o. Ela &eacute; a Base Escritural para a institui&ccedil;&atilde;o da &ldquo;Comunh&atilde;o&rdquo;. A &Uacute;ltima Ceia foi relatada pelos quatro evangelhos can&ocirc;nicos: Mateus 26:17&ndash;30, Marcos 14:12&ndash;26, Lucas 22:7&ndash;39 e Jo&atilde;o 13:1 at&eacute; Jo&atilde;o 17:26. Al&eacute;m disso, ela aparece tamb&eacute;m na 1&ordf; Carta aos Cor&iacute;ntios 11:23&ndash;26.
Os trabalhos evangel&iacute;sticos s&atilde;o fundamentais para o crescimento de qualquer grupo denominacional, mas o que fazer com os &ldquo;novos convertidos&rdquo; &eacute; ainda mais importante. Pois se trata da consolida&ccedil;&atilde;o da f&eacute;. Infelizmente, o novo povo &eacute; ensinado a pregar a Palavra de Deus, mas n&atilde;o sabe o que fazer com os que se convertem na prega&ccedil;&atilde;o da Palavra.
Gra&ccedil;as a Deus, algumas denomina&ccedil;&otilde;es se despertaram para esse quesito, e investem pesado na acolhida das pessoas em seus cultos. E &eacute; claro, quem &eacute; bem recebido, certamente vai voltar. Isso vale para igrejas ou qualquer setor da sociedade. N&atilde;o conhe&ccedil;o ningu&eacute;m que voltou em uma loja que outrora fora tratado com indiferen&ccedil;a. Mas, determinada loja pode ser at&eacute; mais cara que as demais, se a gente foi bem acolhido, recebido com alegria, o retorno &eacute; certo!
A indiferen&ccedil;a se manifesta como um estado de aus&ecirc;ncia de interesse, preocupa&ccedil;&atilde;o ou rea&ccedil;&atilde;o emocional em rela&ccedil;&atilde;o a algo ou algu&eacute;m. Caracteriza-se pela falta de envolvimento afetivo ou intelectual, resultando em um comportamento ap&aacute;tico e distante diante de situa&ccedil;&otilde;es que normalmente suscitam sentimentos ou a&ccedil;&otilde;es. Essa postura pode variar em intensidade, desde uma leve falta de aten&ccedil;&atilde;o at&eacute; uma completa insensibilidade, impactando as rela&ccedil;&otilde;es interpessoais e a percep&ccedil;&atilde;o da realidade ao minimizar a import&acirc;ncia de eventos, necessidades ou sofrimentos alheios.
Na minha humilde opini&atilde;o, a indiferen&ccedil;a causa mais problema que o &oacute;dio. Tratar algu&eacute;m com indiferen&ccedil;a implica em anular a pr&oacute;pria identidade da pessoa no recinto, &eacute; o mesmo que afirmar a sua inexist&ecirc;ncia no ambiente. Isso &eacute; o oposto ao Evangelho, contra-testemunho do querigma de Jesus que acolheu a todos, sem distin&ccedil;&atilde;o, nem segundas inten&ccedil;&otilde;es. Tratar as pessoas como ovelhas, independente se vai produzir para o aprisco, mas porque preciso ser apascentada.
Quando a igreja se torna um lugar de solid&atilde;o &eacute; um sinal antag&ocirc;nico &agrave; sua pr&oacute;pria finalidade. Emanuel, &eacute; um dos nomes dados ao Senhor Jesus para explicar sua maior caracter&iacute;stica: &ldquo;a presen&ccedil;a&rdquo;. Um Deus presente para pessoas presentes diante dele. Contr&aacute;rio a isso, &eacute; desencontro, &eacute; perdi&ccedil;&atilde;o. Quando a igreja re&uacute;ne perdidos que continuam &ldquo;perdidos na casa do Pai&rdquo; perde sua miss&atilde;o, deixa de ser igreja-mission&aacute;ria. Pode at&eacute; ganhar outros pa&iacute;ses, mas perdeu sua pr&oacute;pria casa.
A sugest&atilde;o &eacute; criarmos, comiss&otilde;es de acolhimento. Treinar nossos membros para serem acolhedores, consolidadores. Que a igreja seja, de fato, os bra&ccedil;os do Senhor que acolhe os perdidos em um encontro libertador. E nesse acolhimento, a vida &eacute; ressignificada para a liberdade em Cristo na comunh&atilde;o dos irm&atilde;os. E por isso, frutifica! &Eacute; a pr&oacute;pria igreja que ensina que &ldquo;devemos plantar para colher&rdquo;. Vamos plantar &ldquo;acolhimento&rdquo; para colhermos &ldquo;crist&atilde;os firmes&rdquo; na f&eacute;. Vamos plantar &ldquo;fam&iacute;lia&rdquo; para colhermos &ldquo;comunh&atilde;o&rdquo; entre os irm&atilde;os. N&atilde;o basta reunir quando n&atilde;o h&aacute; unidade:
Ef&eacute;sios 4:4-6 &ldquo;H&aacute; um s&oacute; corpo e um s&oacute; Esp&iacute;rito, da mesma forma que a esperan&ccedil;a para a qual fostes chamados &eacute; uma s&oacute;; h&aacute; um s&oacute; Senhor, uma s&oacute; f&eacute;, um s&oacute; batismo, um s&oacute; Deus e Pai de todos, que &eacute; sobre todos, por meio de todos e em todos&rdquo;.
[...] o amor de Cristo nos uniu.
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Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) &eacute; professor, possui Licenciatura em Letras Portugu&ecirc;s-Ingl&ecirc;s (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). P&oacute;s-graduado em Doc&ecirc;ncia em Letras e Pr&aacute;ticas Pedag&oacute;gicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente &eacute; colunista do Portal Guia-me, professor de L&iacute;ngua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino M&eacute;dio e de L&iacute;ngua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Portugu&ecirc;s Instrumental do IE S&atilde;o Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Prop&oacute;sito (IETEB, 2025). Al&eacute;m de possuir mais de 20 anos de experi&ecirc;ncia na ministra&ccedil;&atilde;o da Palavra. &Eacute; membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
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Daniel Ramos

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