René Breuel é um escritor paulistano que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai (Mundo Cristão), possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado co

René Breuel

Em 2010, a minha esposa e eu nos mudamos do Brasil a It&aacute;lia para<a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/pastor-brasileiro-planta-igreja-em-roma-eles-se-apaixonam-quando-conhecem-jesus.html"> fundar</a> uma igreja evang&eacute;lica em Roma e um movimento que <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/gospel/agenda-gospel/milhares-de-jovens-se-reunirao-para-clamar-por-avivamento-na-europa-deus-esta-agindo.html">busca um novo avivamento</a> na Europa.
Importantes diferen&ccedil;as teol&oacute;gicas permanecem at&eacute; hoje entre cat&oacute;licos e protestantes. Diferen&ccedil;as que, em v&aacute;rios momentos da hist&oacute;ria, levaram a atitudes de desprezo m&uacute;tuo.
&Agrave; luz dessas tens&otilde;es hist&oacute;ricas, na ocasi&atilde;o na morte do Papa Francisco gostaria de honrar a atitude de respeito e estima que ele nutriu em rela&ccedil;&atilde;o aos crist&atilde;os evang&eacute;licos. Enquanto o papa anterior ainda falava de &ldquo;seitas protestantes&rdquo;, o arcebispo Bergoglio cultivava amizades com v&aacute;rios pastores em Buenos Aires. Depois de ser eleito papa em 2013, ele visitou uma igreja pentecostal em Caserta, na regi&atilde;o de N&aacute;poles, para pedir perd&atilde;o pela persegui&ccedil;&atilde;o sofrida pelos evang&eacute;licos na It&aacute;lia nas d&eacute;cadas anteriores.
Entre seus v&aacute;rios esfor&ccedil;os, organizou uma reuni&atilde;o com 11 pastores evang&eacute;licos em 2020 na qual eu participei. Naquela tarde, Francisco passou mais de duas horas conversando fraternalmente conosco. Foi uma oportunidade para lhe fazer algumas perguntas, como, por exemplo, como os crist&atilde;os evang&eacute;licos contribu&iacute;ram para sua vida e jornada de f&eacute;.
Ele contou que cresceu em um contexto em que se dizia que todos os protestantes iriam para o inferno. Mas ele tamb&eacute;m contou a hist&oacute;ria de quando, aos quatro anos de idade, estava caminhando com a av&oacute; e duas ministras do Ex&eacute;rcito da Salva&ccedil;&atilde;o se aproximaram deles. A av&oacute; lhe disse: elas s&atilde;o protestantes, mas s&atilde;o boas. Francisco disse que essa foi a primeira semente em seu cora&ccedil;&atilde;o que lhe permitiu v&ecirc;-los com outros olhos.
Naquele dia, Francisco tamb&eacute;m disse que quando sabia que um fiel cat&oacute;lico havia come&ccedil;ado a frequentar uma igreja protestante, ele n&atilde;o o impedia. Ele ligava para o pastor e lhe dizia: cuide dele. Agora &eacute; sua ovelha. &Eacute; melhor que ele v&aacute; para uma igreja evang&eacute;lica do que para lugar nenhum.
Oro para que o exemplo do Francisco continue a ajudar os crist&atilde;os de diferentes tradi&ccedil;&otilde;es a cultivarem humildade e respeito uns pelos outros. N&oacute;s, evang&eacute;licos, defendemos a verdade das Escrituras e, por isso mesmo, valorizamos o ensinamento do nosso Senhor Jesus:
&ldquo;Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, voc&ecirc;s devem amar-se uns aos outros.&nbsp;Com isso todos saber&atilde;o que voc&ecirc;s s&atilde;o meus disc&iacute;pulos, se voc&ecirc;s se amarem uns aos outros&rdquo;. Jo&atilde;o 13:34-35
&nbsp;
Ren&eacute; Breuel &eacute; um pastor brasileiro que mora em Roma, na It&aacute;lia. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e N&atilde;o &Eacute; f&aacute;cil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canad&aacute;. &Eacute; casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/rene-breuel/por-que-o-natal-e-cheio-de-cancoes.html">Por que o Natal &eacute; cheio de can&ccedil;&otilde;es?</a>

Após ser eleito em 2013, o Papa visitou uma igreja em Nápoles e pediu perdão pela perseguição aos evangélicos na Itália.



Missionário evangélico em Roma: sou grato pelo respeito do Papa Francisco aos protestantes

Sempre fiquei intrigado com a capacidade de alguns filmes de nos mostrar a jornada de um personagem. Por exemplo, um homem conhece uma mulher, eles imediatamente n&atilde;o gostam um do outro... at&eacute; que se apaixonam e o p&uacute;blico acredita no amor deles. Ou um personagem sem talento recebe uma palavra de incentivo de um mentor e revela-se um verdadeiro g&ecirc;nio.&nbsp;
Como nos convencemos de que algu&eacute;m realmente mudou? Talvez haja v&aacute;rias t&eacute;cnicas cinematogr&aacute;ficas, mas uma que me chamou a aten&ccedil;&atilde;o &eacute; o uso da m&uacute;sica para comunicar a passagem do tempo. Uma m&uacute;sica de transi&ccedil;&atilde;o prepara o cen&aacute;rio para uma montagem, na qual v&aacute;rias cenas curtas mostram um personagem crescendo e mudando.&nbsp;
A m&uacute;sica transmite transforma&ccedil;&atilde;o interior
Em Film Music: A Very Short Introduction, Kathryn Kalinak escreve,&nbsp;
[A m&uacute;sica cinematogr&aacute;fica] &eacute; caracterizada por seu poder de definir significados e expressar emo&ccedil;&otilde;es: [ela] orienta nossa resposta &agrave;s imagens e nos conecta com elas... A m&uacute;sica cinematogr&aacute;fica tamb&eacute;m pode criar e transmitir emo&ccedil;&otilde;es entre a tela e o p&uacute;blico. Quando reconhecemos uma emo&ccedil;&atilde;o atribu&iacute;da a personagens ou eventos, nos sentimos mais envolvidos com eles. De certa forma, o filme parece mais imediato, mais real.
Voltando aos exemplos anteriores: o casal que tanto se detestava &eacute; visto conversando, andando e dan&ccedil;ando enquanto um hit rom&acirc;ntico toca, e o p&uacute;blico fica pronto para um beijo veross&iacute;mil e um final &ldquo;felizes para sempre.&rdquo; Ou podemos estar convencidos de que Rocky Balboa &eacute; um b&ecirc;bado sem futuro, mas depois que o vemos treinar na academia e subir as escadas com aquela m&uacute;sica tan-tan-tan-taaan ao fundo, sabemos que um campe&atilde;o est&aacute; se formando.&nbsp;
A m&uacute;sica comunica a passagem do tempo. Mais ainda: ela comunica a amplia&ccedil;&atilde;o emocional necess&aacute;ria para a transforma&ccedil;&atilde;o interior de um personagem.&nbsp;
O Natal &eacute; cercado de can&ccedil;&otilde;es
Essa pode ser uma das raz&otilde;es pelas quais as narrativas de Natal constantemente irrompem em can&ccedil;&otilde;es. Por exemplo, Zacarias come&ccedil;a a cantar quando fica sabendo que sua esposa idosa est&aacute; gr&aacute;vida de Jo&atilde;o Batista: &ldquo;Seja bendito o Senhor, o Deus de Israel, pois visitou e resgatou seu povo&rdquo; (Lucas 1:68).
Da mesma forma, um coro de anjos canta no c&eacute;u quando Jesus nasce: &ldquo;&ldquo;Gl&oacute;ria a Deus nos mais altos c&eacute;us, e paz na terra &agrave;queles de que Deus se agrada!&rdquo; (Lucas 2:14).
O idoso Sime&atilde;o tamb&eacute;m canta quando segura o beb&ecirc; Jesus no templo: &ldquo;&ldquo;Soberano Deus, agora podes levar em paz o teu servo, como prometeste. Vi a tua salva&ccedil;&atilde;o, que preparaste para todos os povos&rdquo; (Lucas 2:29-30a).
Quase nenhuma hist&oacute;ria de Natal passa sem uma can&ccedil;&atilde;o para coroar a transi&ccedil;&atilde;o de uma nova era.
Um evento que muda o mundo, n&atilde;o um feriado sentimental
Em nossa &eacute;poca, tamb&eacute;m temos um repert&oacute;rio cultural de m&uacute;sicas natalinas. A essa altura, voc&ecirc; j&aacute; deve estar cansado de ouvir Mariah Carey cantar &ldquo;All I Want for Christmas is You&rdquo;.&nbsp;
Mas a m&uacute;sica de Natal mais significativa de todas &eacute; mais grandiosa do que &ldquo;Jingle Bells&rdquo; ou &ldquo;Let It Snow&rdquo;. Na can&ccedil;&atilde;o de Maria, uma adolescente emerge exultante como a m&atilde;e do Messias: &ldquo;Minha alma exalta ao Senhor! Como meu esp&iacute;rito se alegra em Deus, meu Salvador!&rdquo; (Lucas 1:46-47).
A can&ccedil;&atilde;o de Maria nos lembra que o Natal n&atilde;o &eacute; um feriado sentimental. &Eacute; um evento que muda o mundo.&nbsp;&nbsp;
[Deus] derrubou pr&iacute;ncipes de seus tronos e exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos e despediu de m&atilde;os vazias os ricos. (Lucas 1:52-53)&nbsp;
Maria n&atilde;o se prende a sentimentalismos sazonais. Ela sabe que o que est&aacute; a ordem mundial depende da pessoa que est&aacute; crescendo em seu ventre. Por isso, ela n&atilde;o tem medo de carregar sua can&ccedil;&atilde;o com uma ret&oacute;rica que, mais tarde, foi censurada por ditaduras como a da Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica.&nbsp;
Maria sabia que seu Filho mudaria o curso da hist&oacute;ria. Quem sabe se alguma vez passou pela cabe&ccedil;a dela que ele tamb&eacute;m mudaria as trajet&oacute;rias pessoais daqueles que o deixassem crescer dentro deles? Quando Jesus define a melodia de nossa vida, experimentamos uma transforma&ccedil;&atilde;o interior digna de uma can&ccedil;&atilde;o maravilhosa.
&nbsp;
Ren&eacute; Breuel &eacute; um pastor brasileiro que mora em Roma, na It&aacute;lia. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e N&atilde;o &Eacute; f&aacute;cil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canad&aacute;. &Eacute; casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #993300;" href="https://guiame.com.br/colunistas/rene-breuel/notre-dame-esta-sendo-reinaugurada-como-uma-igreja.html">A Notre Dame est&aacute; sendo reinaugurada &ndash; como uma igreja?</a>

A canção de Maria nos lembra que o Natal não é um feriado sentimental. É um evento que muda o mundo.  

Por que o Natal é cheio de canções?

&ldquo;Notre-Dame &eacute; nossa hist&oacute;ria, nossa literatura, parte de nossa psique, o local de todos os nossos grandes eventos, nossas epidemias, nossas guerras, nossas liberta&ccedil;&otilde;es, o epicentro de nossas vidas&rdquo;, comentou o presidente franc&ecirc;s Macron na &eacute;poca. Jornais como El Pais, da Espanha, lamentaram o dano causado a &ldquo;um s&iacute;mbolo da cultura europeia&rdquo;, enquanto o ent&atilde;o presidente da Comiss&atilde;o Europeia, Jean-Claude Juncker, declarou que &ldquo;Notre-Dame pertencia a toda a humanidade&rdquo;.
Perdendo o vocabul&aacute;rio da f&eacute;
Na &eacute;poca, eu tamb&eacute;m tive a oportunidade de refletir sobre essa trag&eacute;dia em um artigo para o Washington Post1. E o que notei &eacute; que muitos observadores pareciam perder de vista que uma igreja havia pegado fogo.
Por mais sinceras e comoventes que sejam as palavras [dos pol&iacute;ticos e da m&iacute;dia], elas traem tamb&eacute;m uma trag&eacute;dia maior: a perda de uma linguagem comum de f&eacute;. O fato de Notre Dame ser uma igreja constru&iacute;da principalmente como uma casa de ora&ccedil;&atilde;o parecia curiosamente em segundo plano.
Claro, a catedral testemunhou a coroa&ccedil;&atilde;o de Napole&atilde;o e sobreviveu &agrave; Revolu&ccedil;&atilde;o Francesa e a duas guerras mundiais. Ela &eacute; um s&iacute;mbolo de Paris e um patrim&ocirc;nio de toda a humanidade.
Mas nosso luto coletivo n&atilde;o deve esquecer o fato de que uma igreja estava pegando fogo. Mais do que um &iacute;cone nacional ou um ponto tur&iacute;stico, catedrais como a Notre Dame revelam sua alma quando abrigam cantos e batismos, confiss&atilde;o e perd&atilde;o, prega&ccedil;&atilde;o e ora&ccedil;&atilde;o... se nosso vocabul&aacute;rio compartilhado excluir palavras como &ldquo;Deus&rdquo; e &ldquo;f&eacute;&rdquo;, teremos perdido mais do que um edif&iacute;cio. Teremos perdido o l&eacute;xico de nossas almas. 
Cinco anos depois, a Notre Dame foi reinaugurada ap&oacute;s caras reformas. E eu ainda me pergunto: ser&aacute; que as percep&ccedil;&otilde;es mudaram com o tempo? Ou essa catedral ainda &eacute; vista principalmente como um local cultural, tur&iacute;stico e pol&iacute;tico?
As Escrituras d&atilde;o linguagem para o lamento e a esperan&ccedil;a
A B&iacute;blia nos fornece uma linguagem ampla para expressar a dor coletiva. Quando o templo de Jerusal&eacute;m foi destru&iacute;do pelos babil&ocirc;nios, por exemplo, o povo de Israel usou conceitos espirituais eloquentes para expressar sua dor. &ldquo;&Oacute; Deus, por que nos rejeitaste por tanto tempo?&rdquo;, come&ccedil;a o Salmo 74, antes de continuar, 
lembra-te ainda do monte Si&atilde;o, a tua habita&ccedil;&atilde;o. Caminha pelas ru&iacute;nas assustadoras da cidade; v&ecirc; como o inimigo destruiu teu santu&aacute;rio... Levanta-te, &oacute; Deus, e defende tua causa; lembra-te de como esses tolos te insultam o dia todo.
Da mesma forma, a recupera&ccedil;&atilde;o do vocabul&aacute;rio espiritual tamb&eacute;m ajuda os crist&atilde;os a se apoderarem do conforto e da esperan&ccedil;a enquanto est&atilde;o nas trevas. Hoje em dia, &eacute; comum que figuras p&uacute;blicas digam vagamente que seus &ldquo;pensamentos e ora&ccedil;&otilde;es&rdquo; v&atilde;o para aqueles que est&atilde;o sofrendo.
Mas as palavras do profeta Ageu sobre a reconstru&ccedil;&atilde;o do Templo judaico eram muito mais v&iacute;vidas e esperan&ccedil;osas. &ldquo;'A gl&oacute;ria desta casa atual ser&aacute; maior do que a gl&oacute;ria da casa anterior', diz o Senhor Todo-Poderoso. E neste lugar concederei paz&rdquo;.
Minha mente tamb&eacute;m se lembra da alegria que os judeus expressaram no final do ex&iacute;lio na Babil&ocirc;nia, quando lhes foi permitido retornar &agrave; sua amada terra. O Salmo 126 expressa isso,
Quando o&nbsp;Senhor&nbsp;trouxe os exilados de volta a Si&atilde;o, foi como um sonho. Nossa boca se encheu de riso, e cantamos de alegria. As outras na&ccedil;&otilde;es disseram: &ldquo;O&nbsp;Senhor&nbsp;fez coisas grandiosas por eles&rdquo;. Sim, o&nbsp;Senhor&nbsp;fez coisas grandiosas por n&oacute;s; que alegria!
Minha esperan&ccedil;a &eacute; que a reinaugura&ccedil;&atilde;o de Notre Dame encoraje as pessoas n&atilde;o a quererem visitar Paris como turistas, mas a visitar uma igreja onde quer que morem, por mais simples que seja, para orar, cantar e encontrar o Senhor l&aacute;.
Link:
1 https://www.washingtonpost.com/religion/2019/04/16/notre-dame-isnt-just-cultural-landmark-we-should-remember-that-church-was-fire/
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Ren&eacute; Breuel &eacute; um pastor brasileiro que mora em Roma, na It&aacute;lia. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e N&atilde;o &Eacute; f&aacute;cil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canad&aacute;. &Eacute; casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/rene-breuel/se-deus-existe-por-que-nao-elimina-o-sofrimento.html">Se Deus existe, por que n&atilde;o elimina o sofrimento?</a>

Quando a Notre Dame sofreu um incêndio devastador em 2019, o mundo lamentou os danos causados a um ícone amado.

A Notre Dame está sendo reinaugurada – como uma igreja?

Em meu <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/rene-breuel/sem-fe-em-deus-e-dificil-sofrer-com-proposito.html">artigo anterior</a>, considerei o problema do mal de um ponto de vista secular. Vimos que o mal &eacute; um enigma tanto para os crentes quanto para os n&atilde;o crentes. Muitos c&eacute;ticos afirmam que a exist&ecirc;ncia do mal &eacute; uma prova da inexist&ecirc;ncia de Deus, mas sem f&eacute; em Deus n&atilde;o temos base para considerar o mal &ldquo;mal&rdquo;.
Como explic&aacute;-lo de uma perspectiva crist&atilde;? A resposta crist&atilde; cl&aacute;ssica &eacute; que Deus n&atilde;o criou o mal. Criou pessoas livres, que t&ecirc;m uma consci&ecirc;ncia moral e a capacidade de escolher. N&oacute;s escolhemos tra&iacute;-lo, seguir nosso pr&oacute;prio caminho e agora sofremos as consequ&ecirc;ncias do pecado.
N&atilde;o sei o que voc&ecirc; pensa, mas quando ou&ccedil;o esse argumento, ele me parece um pouco frio... Posso pensar em algumas perguntas dif&iacute;ceis para fazer sobre o tema do livre-arb&iacute;trio.
Por que Deus nos deu o livre arb&iacute;trio?
A primeira &eacute;: por que Deus nos deu o livre-arb&iacute;trio, ent&atilde;o? Se Ele era capaz de prever toda a dor que isso traria, por que colocou aquela &aacute;rvore no jardim?
C.S. Lewis d&aacute; esta resposta: &ldquo;Porque a livre escolha, embora torne o mal poss&iacute;vel, &eacute; tamb&eacute;m a &uacute;nica coisa que torna poss&iacute;vel qualquer amor, bondade ou alegria dignos. Um mundo de rob&ocirc;s &ndash; de criaturas que funcionassem como m&aacute;quinas &ndash; dificilmente seria digno de ser criado.&rdquo;
Um mundo sem liberdade humana seria um mundo sem humanos. As palavras &ldquo;eu te amo&rdquo; s&oacute; t&ecirc;m valor se a pessoa realmente tiver a inten&ccedil;&atilde;o de diz&ecirc;-las. Um fantoche que repete &ldquo;eu te amo&rdquo; quando voc&ecirc; pressiona sua barriga repetiria esses sons, mas eles n&atilde;o teriam sentido.
Jean-Paul Sartre disse algo semelhante: &ldquo;O homem que deseja ser amado n&atilde;o deseja a escravid&atilde;o de quem ama.... Se o amado for transformado em um aut&ocirc;mato, o amante se encontrar&aacute; sozinho.&rdquo;
Por que Deus n&atilde;o impede atos tr&aacute;gicos?
A segunda pergunta que pode vir &agrave; mente quando pensamos sobre o livre-arb&iacute;trio &eacute;: &ldquo;OK, eu entendo que os atos humanos n&atilde;o teriam sentido sem a capacidade de escolha e que seria melhor ter um mundo que desse significado real &agrave; possibilidade de amar e ser amado. Mas por que n&atilde;o mudar as circunst&acirc;ncias que nos fazem sofrer?&rdquo;
Acho que muitas vezes Deus impede que coisas ruins aconte&ccedil;am. Mas Deus n&atilde;o pode interromper sistematicamente todo o sofrimento do mundo, porque se o fizesse, isso destruiria o mundo.
Imagine se eu quisesse lhe dar uma surra (com muita delicadeza e respeito!). Se Deus quisesse me impedir, ele teria que bloquear n&atilde;o apenas meu punho no ar, mas tamb&eacute;m minha inten&ccedil;&atilde;o de esmurr&aacute;-lo e, assim, bloquear meu pensamento, desfazer quem eu sou e desfazer quem somos todos n&oacute;s. Deveria parar de apoiar um mundo onde h&aacute; maldade e, com isso, tudo o que existe deixaria de existir em um instante.
Para acabar com o sofrimento do mundo, Deus teria que acabar com o mundo. Para acabar com as fontes de sofrimento, Ele teria que acabar conosco! Se quiser eliminar o sofrimento, voc&ecirc; tamb&eacute;m deve eliminar a vida.&nbsp;&nbsp;&nbsp;
Este mundo vale a pena?
Isso nos leva &agrave; terceira pergunta que vem &agrave; mente quando consideramos o livre-arb&iacute;trio que Deus nos concedeu: "OK, se a escolha for entre este mundo (com a liberdade e o significado e tamb&eacute;m o sofrimento que temos) e um mundo de rob&ocirc;s ou a aniquila&ccedil;&atilde;o do mundo, vale a pena? H&aacute; muito sofrimento neste mundo... N&atilde;o seria melhor se o mundo n&atilde;o existisse mais?
O pr&oacute;prio Deus conhece essa frustra&ccedil;&atilde;o. Certa vez, Ele decidiu destruir o mundo, quando o G&ecirc;nesis relata que Deus mandou um dil&uacute;vio porque a Terra estava cheia de maldade. Deus n&atilde;o permanece indiferente ao mal. Ele chora diante do sofrimento humano, a ponto de querer destruir tudo, embora, no final das contas, ainda aposte na vida. Ele escolhe No&eacute; e sua fam&iacute;lia para dar outra chance &agrave; humanidade.
Parte de si mesmo diz: &ldquo;Quero terminar com isso&rdquo;. Mas outra parte diz: &ldquo;Amo voc&ecirc;s! Isso d&oacute;i... mas n&atilde;o posso fazer outra coisa. Eu os dou outra chance".
Desmond Tutu, o arcebispo anglicano que ganhou o Pr&ecirc;mio Nobel da Paz por seu trabalho para derrotar o Apartheid na &Aacute;frica do Sul, escreveu:
&ldquo;Pode haver momentos em que Deus tenha se arrependido de ter nos criado, mas estou igualmente convencido de que h&aacute; muito mais momentos em que Deus se sente justificado por nossa bondade, nossa magnanimidade, nossa nobreza de esp&iacute;rito... Para cada ato mal&eacute;volo, h&aacute; uma d&uacute;zia de atos bons neste mundo que passam despercebidos.&rdquo;
Tamb&eacute;m fiquei impressionado com o que Tutu disse quando viu os rostos dos africados oprimidos pelo Apartheid mudarem quando ouviram como sua dor poderia ser usada para o bem.
&ldquo;A consist&ecirc;ncia do sofrimento muda quando o vemos e o experimentamos como redentor, como n&atilde;o desperdi&ccedil;ado, como n&atilde;o sem sentido. N&oacute;s, humanos, toleramos o sofrimento, mas n&atilde;o podemos tolerar a falta de sentido.&rdquo;
Podemos tolerar uma dor enorme se o fizermos com um prop&oacute;sito valioso, por exemplo, uma pessoa que doa um rim para salvar a vida de algu&eacute;m que ama.
O livre-arb&iacute;trio torna poss&iacute;vel o mal, mas tamb&eacute;m a humanidade e o amor. Para eliminar o mal, Deus teria que aniquilar o universo ou criar um mundo de seres sem livre escolha e sem a possibilidade de amor verdadeiro.
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Ren&eacute; Breuel &eacute; um pastor brasileiro que mora em Roma, na It&aacute;lia. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e N&atilde;o &Eacute; f&aacute;cil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canad&aacute;. &Eacute; casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/rene-breuel/sem-fe-em-deus-e-dificil-sofrer-com-proposito.html">Sem a f&eacute; em Deus, &eacute; dif&iacute;cil sofrer com prop&oacute;sito</a>

Se quiser eliminar o sofrimento, você também deve eliminar a vida.    

Se Deus existe, por que não elimina o sofrimento? 

Viver &eacute; sofrer. &Eacute; sentir-se solit&aacute;rio, perguntar-se sobre o porqu&ecirc; das circunst&acirc;ncias e ficar com raiva da dor do mundo.
Muitos c&eacute;ticos afirmam que a exist&ecirc;ncia do mal &eacute; uma prova da inexist&ecirc;ncia de Deus
E muitas pessoas que n&atilde;o acreditam justificam sua falta de f&eacute; alegando que n&atilde;o pode haver um Deus bom se h&aacute; tanto sofrimento no mundo. J&aacute; na antiguidade, um dos poetas romanos, Lucr&eacute;cio, concluiu: "Se Deus tivesse projetado o mundo, ele n&atilde;o teria sido t&atilde;o fr&aacute;gil e defeituoso como o encontramos."
A formula&ccedil;&atilde;o cl&aacute;ssica dessa obje&ccedil;&atilde;o foi dada pelo fil&oacute;sofo escoc&ecirc;s David Hume, que escreveu: "[Deus] est&aacute; disposto a evitar o mal, mas n&atilde;o &eacute; capaz? Ent&atilde;o ele &eacute; impotente. Ele &eacute; capaz, mas n&atilde;o quer? Ent&atilde;o ele &eacute; mal&eacute;volo. Ele &eacute; capaz e disposto? Ent&atilde;o, por que existe o mal?" Ou, como Primo Levi, um sobrevivente dos campos de concentra&ccedil;&atilde;o nazistas, colocou: &ldquo;Se existe Auschwitz, ent&atilde;o n&atilde;o pode haver um Deus.&rdquo;
Sem f&eacute; em Deus, n&atilde;o temos base para considerar o mal &ldquo;mal&rdquo;
A primeira coisa a observar &eacute; que o mal &eacute; um fato que parece contestar Deus, mas que, na verdade, pressup&otilde;e o seu car&aacute;ter, pois nosso senso de justi&ccedil;a e moralidade &eacute; um tra&ccedil;o de Deus em n&oacute;s.
Se Deus n&atilde;o existisse, por que dever&iacute;amos protestar contra a injusti&ccedil;a? Se n&atilde;o temos nenhum senso de bondade absoluta, por que a viol&ecirc;ncia e a crueldade seriam erradas? N&atilde;o foi assim que evolu&iacute;mos, os fortes comendo os fracos? N&atilde;o haveria problema algum.
Jean-Paul Sartre, um fil&oacute;sofo existencialista franc&ecirc;s, afirma que o protesto contra o sofrimento n&atilde;o pode surgir de uma vis&atilde;o de mundo ate&iacute;sta. &ldquo;... se Deus n&atilde;o existe, n&atilde;o temos nem atr&aacute;s nem diante de n&oacute;s um reino luminoso de valores nem qualquer maneira de justificar qualquer comportamento.&rdquo; O escritor russo Dostoi&eacute;vski foi ainda mais sucinto: &ldquo;Se Deus n&atilde;o existe, ent&atilde;o tudo &eacute; permitido.&rdquo;
Um professor de direito da Universidade de Yale, Arthur Leff, escreveu: &ldquo;Se o mal existe, deve haver um bem absoluto para que possamos julg&aacute;-lo como verdadeiramente mau. Com que base, ent&atilde;o, o ateu julga o mundo natural como horrivelmente errado, incorreto e injusto? O n&atilde;o-crente em Deus n&atilde;o tem uma boa base para se indignar com a injusti&ccedil;a, que era a raz&atilde;o para se opor a Deus em primeiro lugar.&rdquo;
Se Deus n&atilde;o existe, por que protestar contra a maneira como o mundo funciona? Temos um profundo desejo de justi&ccedil;a porque fomos criados por um Deus bom.&nbsp;
Os n&atilde;o-crentes devem explicar a bondade e o senso de justi&ccedil;a que encontramos no mundo
Aqueles que n&atilde;o acreditam em Deus t&ecirc;m o desafio de explicar o mal, e n&atilde;o apenas isso: eles tamb&eacute;m devem explicar por que temos um senso inato de justi&ccedil;a. Eles t&ecirc;m de explicar a bondade, a beleza, o amor e tudo o mais! Por que este mundo existe em vez de nada? De onde vem tanta dignidade e significado? Por que sabemos que o bem &eacute; bom e que o mal n&atilde;o nos deixa indiferentes?
Sem f&eacute; em Deus, n&atilde;o temos uma base s&oacute;lida para chamar o mal de "mal". Tampouco teremos a base para lutar contra a injusti&ccedil;a no mundo, porque com que base voc&ecirc; vai dizer &agrave; outra pessoa que o que ela est&aacute; fazendo &eacute; errado?
O secularismo torna o sofrimento sem sentido
Em Caminhando com Deus em Meio &agrave; Dor e ao Sofrimento, Timothy Keller examina as perspectivas estoicas, budistas, crist&atilde;s e baseadas no carma. Surpreendentemente, afirma que nunca houve uma cultura que tenha preparado as pessoas de forma pior para o sofrimento do que nossas sociedades ocidentais modernas.
No passado, as pessoas viam um significado no sofrimento: ele poderia nos purificar, nos fazer crescer ou nos aproximar de Deus. O sofrimento tinha um significado. Mas hoje acreditamos que n&atilde;o h&aacute; nada al&eacute;m deste mundo. O prop&oacute;sito da vida &eacute; ser feliz aqui. Quando voc&ecirc; morre, deixa de existir. Mas ent&atilde;o o sofrimento n&atilde;o tem sentido. &Eacute; exatamente o que queremos evitar: vivemos para n&atilde;o sofrer.
&ldquo;Em todas essas vis&otilde;es de mundo, o sofrimento e o mal (...) podem ser um cap&iacute;tulo importante na hist&oacute;ria de nossa vida e um est&aacute;gio crucial para alcan&ccedil;armos o que mais queremos na vida. Mas na vis&atilde;o estritamente secular, o sofrimento n&atilde;o pode ser um bom cap&iacute;tulo em sua hist&oacute;ria &ndash; apenas uma interrup&ccedil;&atilde;o... A raz&atilde;o para toda essa &ecirc;nfase no aqui e agora deste mundo &eacute; que o secularismo n&atilde;o tem outra felicidade a oferecer. Se voc&ecirc; n&atilde;o consegue encontr&aacute;-la aqui, n&atilde;o tem outra esperan&ccedil;a... Na vis&atilde;o secular, o sofrimento sempre vence.&rdquo;
Sem a f&eacute; em Deus, &eacute; dif&iacute;cil sofrer com prop&oacute;sito. Falta-nos garra e determina&ccedil;&atilde;o. Ficamos chocados com as dificuldades. N&atilde;o sabemos o que fazer.
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Ren&eacute; Breuel &eacute; um pastor brasileiro que mora em Roma, na It&aacute;lia. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e N&atilde;o &Eacute; f&aacute;cil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canad&aacute;. &Eacute; casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
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René Breuel

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