Pressão social ou apostasia? Entenda o que pode estar abalando a fé dos nossos jovens

Nós, como Igreja, estamos formando jovens capacitados o suficiente para lidar com o assédio da cultura secular?

Fonte: Guiame, Marisa LoboAtualizado: sexta-feira, 10 de novembro de 2023 às 17:52
(Foto: Unsplash/Priscilla Du Preez)
(Foto: Unsplash/Priscilla Du Preez)

Dias atrás, a cantora ex-gospel Priscilla Alcântara, que curiosamente também virou "ex-Alcântara", anunciou que está em uma nova fase da sua carreira, sendo agora "Priscilla. Só Priscilla", em suas palavras, sendo essa a forma como deve ser chamada a partir de agora.

Outras ex-promessas do mundo gospel como Jotta A e Jessé Aguiar também anunciaram transformações profundas em suas vidas, com o primeiro, inclusive, se anunciando como "mulher trans".

Infelizmente, não duvido que ainda veremos outros casos desse tipo em um futuro breve, e é por causa disso que venho destacar algumas questões que nós, como Igreja de Cristo, devemos pensar. Afinal, estamos ou não errando?

Pressão social

Em primeiro lugar, antes de qualquer responsabilidade da Igreja sobre o cuidado da saúde espiritual dos nossos jovens, devemos considerar que no mundo atual há uma pressão enorme sobre a juventude, sendo boa parte disso fruto das expectativas de performance e sucesso depositadas sobre meninos e meninas.

O mundo virtual, onde ficamos conectados praticamente 24h, e de forma cada vez mais precoce, sem dúvidas também é parte disso, pois para muitos jovens acaba servindo como uma espécie de espelho, onde a maneira como eles se veem é regulada pela forma como os outros reagem à sua "imagem".

Como resultado, muitos têm transformado suas vidas em uma eterna busca por satisfação social, onde ser "aceito" significa agradar – curtidas, comentários positivos e compartilhamentos – mesmo que isto signifique a desfiguração completa da sua identidade.

Não é por acaso, portanto, que quando comparamos o antes e depois de muitos desses jovens, vemos mudanças radicais que chegam a nos chocar. O que eles alegam ser um processo de autodescoberta e, talvez, de "libertação", na verdade pode ser exatamente o contrário: a exteriorização de uma confusão de sentimentos e ideias cada vez mais profunda.

Apostasia

Assim como a pressão social, do mundo, é real, a apostasia também é. Ou seja, o afastamento da fé, seu abandono e por vezes a total rejeição aos antigos princípios e valores outrora professados. A diferença de uma coisa para a outra é que a segunda parte de uma iniciativa pessoal.

O apóstata, de fato, decide abandonar ou distorcer os ensinos da Bíblia por questões pessoais. O mundo pode lhe influenciar, mas o que realmente lhe afasta de Deus são os pecados cultivados em seu próprio ego, em alguns casos transformados em objetos de culto: vaidade, luxúria, dinheiro, fama, poder, etc.

Mas, e quanto à Igreja? Será que nós, cristãos, não teríamos alguma responsabilidade diante da "rebeldia" cometida por alguns desses jovens? Certamente, sim. Não como parte culpada, mas como àquela que, em situações específica, poderia ter feito diferente na esfera do cuidado individual.

Ouvir e compreender

À Igreja cabe ouvir e compreender mais os dilemas que os jovens dessa geração têm enfrentado. Como psicóloga, e cristã,  tenho ministrado em muitos eventos de igrejas onde boa parte desse público reclama desse quesito: eles querem ser ouvidos!

Mais do que isso, querem ser acolhidos! Acolher significa cuidar, e cuidado significa oferecer suporte pessoal a quem precisa de acompanhamento. Um jovem que enfrenta uma confusão de ordem sexual, por exemplo, se não for devidamente compreendido, pode achar que encontrará essas respostas no mundo.

Ou, o jovem que é prejudicado pelo legalismo religioso, a ponto de achar que não pode fazer determinadas coisas banais por ser um "crente", pode achar que o liberalismo mundano é a resposta que lhe dará a "liberdade" de ser ele mesmo.

Existe ainda os dilemas intelectuais/ideológicos que são explorados atualmente nas escolas e universidades. Nós, como Igreja, estamos formando jovens capacitados o suficiente para lidar com o assédio da cultura secular?

Como a fé pode ser traduzida aos olhos da ciência? Como a moralidade pode ser justificada sob à perspectiva judaico-cristã, em um mundo cuja concepção do certo e errado, verdadeiro ou falso, tem sido relativizada a ponto de negarmos até a realidade biológica dos sexos?

Essas são apenas algumas questões que atualmente são bombardeadas na mente dos nossos jovens, trazendo sobre eles um peso enorme de responsabilidade sobre as posições que devem assumir.

Conclusão

Como podemos notar, os problemas da juventude cristã atual são amplos, complexos e exigem um olhar contextual da nossa parte. Os sintomas estão aí, visíveis, assim como verbalizados e até cantados – literalmente, se é que me entendem.

Portanto nós, como Igreja, devemos sim entender que a pressão social é real, assim como a apostasia, mas sobretudo como podemos reagir a tudo isso, servindo de porto-seguro para a promoção da saúde mental e espiritual da juventude. Temos um grande desafio.

Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: 'Hikikomori': como o isolamento social está destruindo a saúde mental dos jovens?

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