Como reconhecer os sintomas silenciosos e explícitos do pensamento suicida

Há muita informação na mídia sobre estes sinais, mas considero que, como cristãos, podemos ir além do que é dito pela sociedade.

Fonte: Guiame, Marisa LoboAtualizado: segunda-feira, 10 de setembro de 2018 às 15:17
Em todo caso devemos ficar atentos aos sinais silenciosos e explícitos do suicídio. (Foto: Getty)
Em todo caso devemos ficar atentos aos sinais silenciosos e explícitos do suicídio. (Foto: Getty)

É muito importante falar sobre o combate ao suicídio, não apenas no setembro amarelo, mas durante todo o ano. O sofrimento humano não segue uma data, ele simplesmente acontece e quem luta com ele precisa de atenção sempre que é necessário, por isso quanto mais exploramos os aspectos relacionados ao pensamento suicida, procurando entender o que lhe motiva e como lidar com isso, mais preparados ficamos para evitar que alguém decida tirar a própria vida.

Meu objetivo nesse texto é procurar indicar alguns dos sintomas que indicam o desenvolvendo do pensamento suicida. Há muita informação na mídia sobre estes sinais, mas considero que, como cristãos, podemos ir além do que é dito pela sociedade sobre a maneira como podemos compreender essa realidade.

Apenas para efeito didático, dividi os sintomas do pensamento suicida em “silenciosos” e “explícitos”, assim fica mais fácil distinguir cada um deles em dado momento e contexto.

Sintomas silenciosos do pensamento suicida

Quando falamos de sintomas silenciosos, não se trata do silêncio de forma literal. Não significa, por exemplo, que a pessoa não fale nada indicando a sua angústia. O silêncio nesse caso se refere a um tipo de comportamento e pensamento que não indicam de forma explícita o desejo de tirar a própria vida. Vejamos:

a) Retração/isolamento – Este é um dos sintomas silenciosos. Independente do motivo que desencadeie o desenvolvimento do pensamento suicida, a mudança de comportamento no sentido de se isolar das pessoas, evitar contato, de estar em grupo e frequentar determinados ambientes, pode indicar que algo está errado com essa pessoa. A retração algumas vezes significa o desinvestimento que essa pessoa está fazendo em sua vida, sendo a falta de contato humano um indicador dessa condição;

b) Esgotamento emocional – Outro sintoma silencioso, o esgotamento emocional geralmente é verbalizado com frases como “estou cansado”, mesmo quando não se refere ao cansaço físico. Essa afirmação possui uma conotação emocional muito nítida, geralmente acompanhada de situações de angústia, tristeza, problemas do dia-a-dia relacionados à família, profissão, etc. “Não agüento mais essa situação”, “estou no meu limite”, “vou ter um ataque”, “está muito difícil suportar”, “não sei mais o que fazer”, são exemplos de frases que, como podemos notar, não fazem menção ao suicídio, em tirar a própria vida ou algo do tipo, mas dizem respeito ao estado emocional da pessoa;

c) Doação de bens de forma incomum – Quando o pensamento suicida já está bem desenvolvido, é comum observar que algumas pessoas começam a desapegar de coisas que consideram valiosas, não apenas financeiramente, mas afetivamente. Elas fazem doações, dão de presente, dizem não precisar mais, vendem por valores muito abaixo do mercado. Pode ser um simples objeto pessoal, como um álbum de música, ou propriedades como carros e imóveis;

d) Saudosismo e fixação de ideias – Este sintoma silencioso é quando a pessoa se refere muito ao passado, geralmente a momentos que considera ter sido feliz. Ela lembra deles com profunda emoção, como se mergulhasse em sua memória desejando fortemente voltar ao passado se pudesse controlar o tempo. Assim como no sintoma de retração e isolamento, isto pode significar um desinvestimento cada vez maior na vida presente. Este sintoma também é marcado pela fixação de ideias. Ou seja, a pessoa repete o mesmo discurso com frequência, fazendo comparações constantes com a sua vida atual.

Sintomas explícitos do pensamento suicida

Os sinais explícitos se caracterizam basicamente pela menção direta ao desejo de se matar, questionamentos acerca da própria vida e atitudes autodestrutivas. Por exemplo:

a) Vontade de morrer – O sintoma explícito mais evidente acerca do pensamento suicida é a verbalização sobre o desejo de morrer. A pessoa diz claramente que este é o seu desejo, com afirmações como “quero morrer” ou “vou me matar porque não aguento mais”. Todavia, nem sempre essa menção à palavra “morrer” ou “matar” está presente. Na maioria das vezes ela está implícita no discurso, por exemplo, quando a pessoa diz “gostaria de dormir e não acordar mais”, ou “queria apagar por um bom tempo”, “preciso me desligar de tudo”, “queria desaparecer”, “vou sumir”;

b) Questionamentos sobre o sentido da própria vida – Neste sintoma a pessoa geralmente não acredita mais haver um propósito para a sua existência. Ele é o agravamento do desinvestimento que a pessoa veio fazendo ao se isolar, com a diferença de que nesse estágio ela já está procurando se convencer de que não há sentido em sua vida e que, portanto, seria “mais fácil desaparecer”. É importante frisar que esse tipo de questionamento é diferente do filosófico. A pessoa não está interessada em questões acerca da filosofia, o que seria normal, mas sim em se convencer de que não há mais motivo para viver;

c) Curiosidade e planejamento suicida – Este sintoma é marcado pelo interesse cada vez maior que a pessoa tem no ato do suicídio. Não é sobre o assunto em si, mas pela prática. Ela procura informações sobre casos de suicídio, possíveis consequências, métodos de tirar a própria vida, questões vinculadas à família, trabalho, etc. Ou seja, nesse estágio a pessoa já está, mesmo sem ter plena noção disso, planejando a sua morte. É comum ver nos arquivos pessoais de computador e celular dessas pessoas informações sobre esses assuntos;

d) Tentativa de suicídio / comportamento autodestrutivo – Muitas vezes a tentativa de suicídio ocorre mesmo quando a pessoa que pratica não tem total consciência de que está realmente atentando contra sua vida. O estado emocional de profundo sofrimento dificulta esse julgamento, especialmente se o momento for acompanhado pelo uso de drogas. Tem casos onde a pessoa toma uma quantidade maior de medicamento sabendo que não vai ser o suficiente para lhe matar, mas faz isso na intenção de “apagar por algum tempo”. O mesmo ocorre no abuso de drogas, quando há overdose. O usuário às vezes não tem consciência da reação, mas sabe que o consumo pode lhe matar. Todos esses casos são sintomas explícitos do pensamento suicida.

Finalmente, os sintomas não devem ser considerados isoladamente. Nem sempre uma pessoa que passa por um momento de isolamento está desenvolvendo o pensamento suicida, assim como nem sempre quem diz “quero morrer” está realmente desejando morrer. Todos nós em algum momento da vida podemos manifestar alguns desses sintomas, e isso não significa que estamos com pensamento suicida, mas apenas que passamos por sofrimentos naturais da vida. Por isso é importante entender o contexto de cada indivíduo, considerando o conjunto de sintomas e principalmente se há ou não comunicação entre eles. Os que citei são apenas exemplos.

Em todo caso devemos ficar atentos aos sinais silenciosos e explícitos, procurando nos aproximar das pessoas que manifestam esses sintomas, sem desdenhar do seu sofrimento, questionamentos, mas pelo contrário, procurando compreender e ser um canal de apoio para que elas possam se expressar. Em muitas situações o sentimento de rejeição, abandono e falta de compreensão são decisivos, por isso como cristãos temos o compromisso ainda maior de acolher, cuidar e amar quem manifesta estes sinais. Isso pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Por Marisa Lobo - Psicóloga, especialista em Direitos Humanos e autora de livros, como "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".

*O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

 

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