A alma que me cabe

A alma que me cabe

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:24

''Os conservadores e reformados - disse o dono do haras ao jangadeiro - afirmam que a missão é levar as pessoas a abraçarem o nome de seu mestre de modo a evitar o inferno e ganhar o céu; para eles, trata-se de salvar almas não para este mundo, que e irremediável, mas para a vida eterna. Os liberais e libertários afirmam que a missão é transformar este mundo a partir do exemplo revigorante do seu mestre, de modo a construir nesta vida uma estirpe honorária de céu; para eles, trata-se menos de prometer o reino de Deus para a vida futura que implementá-lo contra todos os impedimentos nesta existência. Qual é a sua opinião? Qual dos dois pensamentos está certo?''

O jangadeiro terminou de fazer o nó que o incomodava e aspirou a maresia.

''O que sei sobre a vida eterna é que ela é para ser um presente, e presente a gente não deve cobrar nem esperar. O mesmo, você deve entender, posso dizer desta vida. A vida futura que deve me ocupar é o momento seguinte, porque o momento seguinte depende do que faço neste. Salvar as pessoas ou transformar o mundo?''. Se você pensar, qualquer um desses seria fácil demais, porque tanto o mundo quanto as pessoas estão fora de mim; a metamorfose deles nada exige de mim e para mim nada implica além daquilo que me beneficia. O desafio do legado de Jesus é que eu transforme a mim mesmo. É natural que transformando a mim mesmo estarei transformando o mundo, mas essa não é a questão. A alma que me cabe salvar continuamente é a minha.

[Paulo Brabo. A Bacia das Almas. Editora Mundo Cristão, 2009]

Ao embarcarmos nessa jornada em busca de um & Somente assim, nessa confusão; comunhão dos abraços, percebo que o mundo que pretendo e desejo abraçar não é um mundo construído apenas pelo outro que outrora eu pretendia salvar, nem tampouco um mundo estranho que é preciso transformar. O mundo passa a ser expressão de mim mesmo; sou eu também responsável pela feiúra do mundo que pretendo tornar belo. Antes de tentar abraçar o outro e seu mundo, somos chamados a encarar o mundo e o outro como quem olha um espelho: ver a nós mesmos e o mundo que ajudamos a construir. Assumir o desafio perene de que a verdadeira alma que nos cabe é a nossa mesma. A profecia começa sempre pela casa do Senhor.

Ed René Kivitz   é mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, escritor, conferencista e pastor da Igreja Batista de Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, tendo obras e pastorais publicados neste site:   www.ibab.com.br .

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