A moda dos chamados alimentos funcionais, que movimentam bilhões de dólares em todo mundo, recebeu um duro golpe ontem. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês) julgou improcedentes muitas alegações da indústria alimentícia de que estes produtos, também conhecidos como probióticos, melhoram a saúde dos consumidores.
Em avaliação do mérito científico de mais de 800 dessas alegações, como as de que esses produtos ajudam o sistema imunológico e auxiliam a digestão, a EFSA não encontrou provas que as apoiassem. Segundo o painel de cientistas independentes reunido pela autoridade europeia, as evidências apresentadas pelos fabricantes para afirmar que esses produtos fazem bem à saúde ou eram tão generalizadas que não podiam ser admitidas ou não demonstravam claramente seus efeitos positivos.
Em uma decisão em separado, o painel também examinou um dossiê de 12 estudos submetido pela Yakult em favor de sua bactéria probiótica patenteada, a Lactobacillus casei shirota. De acordo com os cientistas, todos eles falharam em mostrar a alegação da empresa de que seus produtos garantem uma defesa contra a gripe comum. Em comunicado, a Yakult informou que a alegação rejeitada é referente a apenas um dos aspectos de suas pesquisas, que teriam como base experimentos com seres humanos bem projetados e controlados.
Só no Reino Unido, cerca de 60% das famílias consomem regularmente produtos probióticos. Este lucrativo mercado, no entanto, estabeleceu-se e cresceu sem que houvesse uma avaliação científica independente destes alimentos, o que atraiu críticas de grupos de consumidores. Os supostos benefícios à saúde estão no centro da propaganda e comercialização dos alimentos funcionais, que geralmente têm margens de lucro maiores e permitem às empresas obter um diferencial num mercado saturado de opções.
Foi só a partir de 2007, porém, que a União Europeia decidiu começar a regular o setor em resposta às reclamações das associações de consumidores, que exigiam a proibição do uso dessas afirmações pela indústria na venda dos produtos sem que elas fossem provadas antes, ou que os alimentos se mostrassem tão saudáveis no geral que poderiam ser considerados benéficos. Sob esta nova regulamentação, os países integrantes da UE foram instados a submeter exemplos dessas alegações acompanhadas de evidências científicas que as justificassem para uma avaliação independente da EFSA.
Desde então, a autoridade europeia já havia emitido cinco decisões contrárias às afirmações de supostos benefícios dos probióticos, palavra que, segundo uma porta-voz da EFSA, a própria instituição evita usar por não ter uma definição científica clara. Diante disso, a Danone, líder do mercado de alimentos funcionais, retirou de avaliação pelo órgão as alegações de que seus produtos Actimel e Activia podiam melhorar o sistema imunológico e auxiliar na digestão, removendo de sua propaganda e embalagens qualquer menção relativa à saúde imunológica. A empresa, no entanto, ainda aguarda análise da EFSA de um estudo em que afirma que "leite fermentado que contém o probiótico Lactobacillus casei reduz a presença de toxinas da (bactéria) Clostridium difficile nos intestinos, que é associada a casos de diarreia aguda".
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