Um estranho ruído cósmico está intrigando a comunidade científica mundial. Até o momento, os pesquisadores não têm explicações para a origem do misterioso sinal cósmico registrado por um balão estratosférico operado pela Nasa, a agência espacial norte-americana.
Segundo o diretor de Satélites e Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira (AEB), Thyrso Villela, a descoberta surpreendeu a todos, ao demonstrar que a ciência ainda "não compreende a natureza da maneira como acreditávamos entender", necessitando "aperfeiçoar" os modelos empregados para explicar fenômenos naturais.
"Esse sinal não havia sido previsto pelos modelos que temos hoje para explicar a origem e a evolução do Universo. É, literalmente, um mistério, algo não explicável pelos modelos físicos de que dispomos hoje", afirmou Villela.
O anúncio sobre a detecção do sinal foi feito no dia 7 de janeiro, durante reunião da Sociedade Astronômica Americana, realizada na Califórnia (EUA). Segundo Alan Kogut e Michael Seiffert, pesquisadores que participam do projeto Arcade (do inglês, Radiômetro Absoluto para Cosmologia, Astrofísica e Emissão Difusa), o desconhecido sinal em frequências de rádio foi detectado enquanto o balão estratosférico da NASA buscava fontes de energia emitidas pelas primeiras estrelas a se formarem no Universo, há dezenas de bilhões de anos.
"Esperávamos medir um sinal de rádio que tivesse sido produzido pelas primeiras estruturas a se formar no universo. Ao invés disso, medimos um sinal seis vezes mais intenso e não havia forma de explicar isso", disse Villela, que participa do projeto Arcade junto com o também brasileiro Alexandre Wuensche, do grupo de Cosmologia Observacional da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Esse sinal residual, conhecido como Radiação Cósmica de Fundo em Micro-Ondas, pode ser verificado em frequências de rádio e micro-ondas. Segundo a AEB, no entanto, não existiria um suficiente número de galáxias no Universo capazes de explicar a intensidade do estranho sinal detectado, seis vezes mais intenso que o produzido pelas estruturas mais antigas. Dessa forma, ele não pode ser atribuído a nenhum sinal já conhecido.
"O grande problema é que não existem idéias que possam explicar de forma objetiva a origem desse sinal. Supomos que as primeiras estrelas a se formar no Universo podem ter formado buracos negros e emitido esse sinal, mas ainda não fizemos as contas para verificar se algo assim explicaria a descoberta", disse Villela. "Ao nos depararmos com esse sinal tivemos que considerar várias possibilidades de erro, recalibrar instrumentos e refazer cálculos, pensando outras hipóteses que pudessem explicar tais sinais".
Para o cientista, embora pareça não ter qualquer vínculo com o cotidiano das pessoas, a descoberta é importante. "O objetivo inicial da ciência é entender como as coisas funcionam na natureza, entender a física que rege nosso mundo. Se conseguirmos entender como essas estruturas se formaram no universo, podemos descobrir aplicações que podem revolucionar nosso dia a dia", argumentou Villela, lembrando que o raio-laser já havia sido observado quase cem anos antes do homem dominar sua utilização. "Esse sinal pode ser uma nova pista de como a natureza funciona, do que provavelmente só poderemos tirar proveito daqui a algum tempo".
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