Depois da crise, Alemanha volta a ser o motor da Europa

Depois da crise, Alemanha volta a ser o motor da Europa

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:13

A Alemanha foi um dos países desenvolvidos que mais sofreram com os efeitos da crise econômica mundial. No ano passado, a economia do país teve retração de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e registrou a pior queda anual da balança comercial desde a década de 1950. Apenas nove meses se passaram, mas quem analisar a economia alemã com uma lente de aumento vai enxergar melhorias em quase todos os setores.

A começar pelo PIB, que reverteu a tendência de queda e cresceu 2,2% no segundo trimestre deste ano, muito acima da previsão dos economistas. Nos próximos meses, o número de desempregados deve ficar abaixo de 2,8 milhões de pessoas, menor índice desde a reunificação do país, em 1989.

A transformação radical é resultado de um dispendioso pacote de estímulo econômico adotado pelo governo da chanceler Angela Merkel. Além de ajudar bancos e empresas em apuros, o conjunto de medidas, que atingiram 675 bilhões de euros (o equivalente a R$ 1,4 trilhão) encorajou a volta do consumo. “O pacote do governo evitou que a economia afundasse”, disse à revista Spiegel o economista Peter Bofinger, do Conselho Alemão dos Experts em Economia.

São muitos os exemplos de que a economia alemã está voltando ao melhor da sua forma. Dois anos depois da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, que desencadeou uma crise mundial comparada à Grande Depressão de 1929, as montadoras voltaram a trabalhar em três turnos e a produção da indústria aumentou 5% no segundo trimestre de 2010, em relação ao mesmo período do ano passado.

Na primeira quinzena de setembro, dois centros de estudos econômicos da Alemanha divulgaram que a economia crescerá 3,4% neste ano, o que representa a maior taxa dos últimos 20 anos e quase três vezes mais do que seus vizinhos europeus. As exportações alemãs aumentaram 28,5% em junho em relação ao mesmo período do ano anterior.

Um dos reflexos do reaquecimento da economia está na taxa de desemprego. Até o final do ano, o número de alemães sem trabalho deve ficar abaixo de 7,6% da população. “A economia acelerou neste ano claramente mais do que na maioria dos demais países industrializados”, afirma estudo divulgado pelo Instituto da Economia Mundial de Kiel (IfKA, na sigla em alemão).

Medidas keynesianas

O programa alemão de recuperação da economia foi inspirado na teoria do economista britânico John Maynard Keynes, cujas ideias afetaram a teoria e a prática da macroeconomia moderna. Estudo feito por Keynes com base na Grande Depressão concluiu que, quando a economia está em queda, o governo precisa agir rapidamente para neutralizar a tendência com um grande programa de investimentos, gastos e estímulos. “A coisa mais importante é distribuir quanto mais dinheiro possível para a população, mesmo que, para isso, o governo precise encher garrafas com notas ou enterrar dinheiro em minas de carvão, que depois são preenchidas até a boca com o lixo da cidade”, costumava dizer Keynes, que nasceu em 1883 em Cambridge, na Inglaterra.

Apesar de uma hesitação inicial, foi o que Angela Merkel resolveu fazer. Dos 675 bilhões de euros investidos pelo governo na recuperação do país, pelo menos 80 bilhões de euros foram usados em dois programas que tinham como objetivo estimular a economia. “A ideia era combater o fogo com mais fogo”, afirmou Peer Steinbrück, ex-Ministro das Finanças da Alemanha. Deu resultado.

A chanceler e sua equipe econômica desenvolveram uma série de planos para estimular a economia da Alemanha. Uma delas visava garantir o emprego. Ao invés de abrir programas de demissão voluntária, as empresas alemãs que passavam por dificuldades foram incentivadas a reduzir o número de horas da jornada de trabalho de seus funcionários sem reduzir o salário. Para isso, recebem um subsídio do governo. Os benefícios são claros. Enquanto a crise causou a demissão de 7 milhões de pessoas nos Estados Unidos, a Alemanha registrou um aumento marginal do número de desempregados. A medida ajuda a evitar demissões, mas tem um custo alto: 6 bilhões de euros até o final deste ano.

Com o emprego do trabalhador garantido, era hora de estimular a economia. O governo resolveu então pagar um abono de 2,5 mil euros para cada motorista que trocasse seu automóvel antigo. Milhares de pessoas atenderam ao chamado e as vendas de veículos novos aumentaram 23%. O custo do programa? Cerca de 5 bilhões de euros. Outros 20 bilhões de euros foram disponibilizados para a construção de prédios novos, a reforma de imóveis usados e a pavimentação de ruas e estradas.

Sinal amarelo

A recuperação acontece depois de um dos períodos mais difíceis da História recente da economia do país. A Alemanha foi duramente atingida pela crise econômica que chacoalhou o mundo a partir de setembro de 2008. Além de ver o PIB cair 5% no ano passado, os alemães perderam para a China o título de maior exportador do mundo. O acontecimento tem duas explicações: uma é o crescimento dos chineses como maior motor da economia mundial. Mas a perda da liderança deve-se muito à queda das exportações alemãs. Apesar de ter registrado um superávit de 136 bilhões de euros na balança comercial, registrou perda de quase 24% em relação ao ano anterior. Foi a maior queda do saldo da balança comercial alemã desde os anos 1950.

Apesar da melhoria nos números, ainda é cedo para dizer que o pior já passou. Principalmente porque o pacote de estímulos criou um grande problema para o governo alemão: o aumento do déficit público. De acordo com números divulgados em agosto, o deficit foi de quase 43 bilhões de euros, mais do que o dobro do registrado nos seis primeiros meses de 2009. Isso representa 3,5% do PIB alemão, o que vai contra as regras de orçamento da União Europeia, que exige que o deficit de seus países membros não ultrapasse 3%. Apesar do bom momento, a recuperação total da Alemanha ainda vai demorar mais um pouco.

Postado por: Thatiane de Souza

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