Talibã pediu lista de meninas e viúvas para casamento forçado com combatentes

O grupo prometeu ainda que as meninas e mulheres da lista seriam convertidas ao islamismo e reintegradas.

Fonte: Guiame, The Sun e NBC NewsAtualizado: terça-feira, 17 de agosto de 2021 às 13:53
Mulher segura seu diploma de quando estudava, antes da tomada do poder pelo Talibã. (Foto: Nina Berman/NOOR)
Mulher segura seu diploma de quando estudava, antes da tomada do poder pelo Talibã. (Foto: Nina Berman/NOOR)

O Talibã emitiu uma carta exigindo que líderes muçulmanos no Afeganistão apresentassem uma lista de meninas, com mais de 15 anos, e viúvas, com menos de 45, para se casar com seus combatentes.

A carta teria sido emitida em nome da Comissão Cultural do Talibã em julho, antes do grupo islâmico assumir o controle do país. O documento foi publicado pelo jornal britânico The Sun e voltou a circular nas redes sociais nesta semana.

“Todos os imãs (líderes islâmicos) e mulás (homens religiosos) nas áreas capturadas devem fornecer ao Talibã uma lista de meninas com mais de 15 anos e viúvas com menos de 45 que se casarão com combatentes talibãs”, diz a carta.

O que o Talibã chama de casamento, no entanto, é escravidão sexual. O grupo prometeu ainda que as meninas e mulheres da lista seriam enviadas para o Vaziristão — uma cidade no noroeste do Paquistão que faz fronteira com o Afeganistão — para serem convertidas ao islamismo e reintegradas.

Buscando projetar uma imagem mais branda, eles negam ter feito qualquer declaração. “Essas são afirmações infundadas”, disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do grupo, em julho. “São rumores espalhados por meio de papéis fabricados.”


Carta que teria vindo do Talibã ordena que meninas e viúvas se casem com soldados. (Foto: Twitter)

Os combatentes do Talibã invadiram o Afeganistão, assumindo o controle do país no fim de semana. No domingo (15), se espalharam pelo mundo as imagens dos combatentes armados dentro do palácio presidencial, depois que as tropas americanas, militares afegãos e o presidente deixaram o país.

Sob o antigo regime do Talibã, as meninas foram impedidas de frequentar a escola e as mulheres foram proibidas de aparecer em público sem burca e sem acompanhantes masculinos.

Aqueles que violaram as regras do Talibã enfrentaram açoites em público e execução. Desta vez, o grupo islâmico alegou que iria redigir leis para garantir que as mulheres pudessem participar da vida pública no Afeganistão.

“O objetivo seria permitir que as mulheres contribuíssem para o país em um ambiente pacífico e protegido”, disse Zabihullah Mujahid em maio.

Mulheres temem seu futuro

Na prática, as mulheres afegãs temem um futuro “sombrio”. Fawzia Koofi, ex-deputada afegã que luta pelos direitos femininos, afirma: “As mulheres no Afeganistão são a população em maior perigo ou risco do país”.

As mulheres estão como “prisioneiras em suas casas”, de acordo com um funcionário do governo provincial no Afeganistão. “Elas não podem sair”.

Elas temem um futuro “sem direito à educação, sem direito a ensinar, sem direito a trabalhar”, em uma carta compartilhada com a NBC News pelo escritório de Rohgul Khairzad, o vice-governador da província de Nimroz.


Combatentes do Talibã dentro do palácio presidencial em Cabul. (Foto: AP/Zabi Karimi)

O escritório de Khairzad disse que a carta foi escrita na segunda-feira (9) por um grupo de mulheres em Zaranj, capital da província de Nimroz e a primeira a cair nas mãos do Talibã depois que as forças dos EUA começaram a se retirar do país.

“O Talibã, durante o regime anterior, mostrou que nunca permitiria que as mulheres estudassem e trabalhassem mesmo que o Islã permitisse”, disse a carta. “Por favor, parem o Talibã. Respeitem as mulheres e as meninas.”

A carta também expressou temores de que mulheres e meninas sejam forçadas a se casar com membros do grupo militante.

O porta-voz do Talibã considerou a carta “lixo e propaganda sem fundamento” e voltou a negar que as mulheres seriam forçadas a casar. “Isso não é nem mesmo imaginável em nosso sistema, não importa o quão poderoso você seja”, disse ele.

No entanto, a ex-deputada Koofi e o oficial provincial disseram ter recebido relatos de que as mulheres estavam sendo obrigadas a “se casar à força”. Koofi acredita que a prática não seja generalizada, mas teme que as mulheres sejam alvo no novo governo.

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