ONGs evangélicas recebem apoio do governo para trazer refugiados afegãos ao Brasil

Bolsonaro disse em discurso na ONU que o país receberia famílias de refugiados e cristãos.

Fonte: Guiame, com informações do MetrópolesAtualizado: segunda-feira, 22 de novembro de 2021 às 13:53
Refugiados afegãos com documentos de proteção. (Foto: European Union/ECHO/Pierre Prakash)
Refugiados afegãos com documentos de proteção. (Foto: European Union/ECHO/Pierre Prakash)

ONGs evangélicas focadas no trabalho com refugiados a trazer cristãos do Afeganistão para o Brasil devem receber ajuda do governo federal. A atuação está em consonância com que o presidente Jair Bolsonaro disse na Assembleia Geral da ONU, sobre concessão de refúgio a cristãos.

Para isso, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e da Casa Civil se reuniu com representantes de ONGs para discutir o assentamento desses refugiados cristãos no país.

Até agora, 241 vistos humanitários para refugiados do Afeganistão já foram emitidos, segundo o Ministério das Relações Exteriores. Desse total, pelo menos 67 são de cristãos que estão sendo trazidos para o Brasil pela Missão em Apoio à Igreja Sofredora (Mais), uma das ONGs cujos dirigentes se reuniram com o governo.

Outros 48 vistos foram emitidos após um pedido da Coalizão Brasil-Afeganistão que traz não só cristãos como outras pessoas ameaçadas pelo Talibã. A ONG também esteve com o governo.

Ambas as entidades seguem em contato com o governo brasileiro para conseguir trazer os afegãos. A terceira entidade que se reuniu com o governo Bolsonaro foi o Fundo Barnabas, que ainda não conseguiu vistos para seu grupo de refugiados.

‘Trabalho conjunto’

Representantes das três entidades relataram ao site Metrópoles os contatos com o governo. Thiago Biazin, coordenador do Fundo Barnabas, disse que o “governo tem ajudado de todas as maneiras. A gente tem trabalhado junto, tanto a Casa Civil quando o MRE e o Ministério dos Direitos Humanos. Todos eles estão envolvidos nessa causa”.

Já José Prado, coordenador da Coalizão Brasil-Afeganistão, relatou que em um primeiro momento teve contato com a pasta comandada por Damares, “que se ofereceu para monitorar e para dar algum tipo de guia, uma orientação para essas famílias quando chegassem”.

“Porém, algumas semanas atrás fomos informados de que isso não estava mais nos Direitos Humanos e tinha sido transferido para a Casa Civil”, acrescentou.

‘Grato ao governo’

O reverendo Luiz Renato Maia, que cuida da questão dos refugiados na Missão em Apoio à Igreja Sofredora, também se disse grato ao governo federal. “O governo brasileiro operou de todas as formas para facilitar nosso trabalho, ajudar com documentação”, relatou.

A polêmica quanto à diferenciação por religião entre os refugiados afegãos ficou pública após Bolsonaro dizer explicitamente em seu discurso na ONU em 21 de setembro que o país ofereceria visto humanitário para cristãos, o que levantou temores quanto a uma possível discriminação religiosa por parte do governo. De acordo com Prado, o coordenador da Coalizão, o processo para trazer os refugiados destravou logo em seguida, em 24 de setembro.

A fala de Bolsonaro foi um aceno para os evangélicos, uma parte importante da sua base de apoio.

O Itamaraty vem afirmando que não há discriminação na emissão de vistos. “Tanto não há discriminação, que muitos dos pedidos considerados são de muçulmanos. Reconhecer que há vulnerabilidades mais agudas não significa excluir outras”, disse o secretário de Comunicação e Cultura, Leonardo Gorgulho, em uma entrevista coletiva concedida em outubro, sem informar quantos dos pedidos são de muçulmanos.

Ao falar em “vulnerabilidades mais agudas”, Gorgulho se referia a um ponto da lei islâmica, conhecida como sharia, que condena à morte muçulmanos que se converterem a outras religiões. Essa é a situação dos cristãos no Afeganistão, já que não há um grupo no país que tradicionalmente segue o cristianismo, como é o caso em outros países de maioria muçulmana, como o Egito.

Para tentar se equilibrar entre os diferentes pontos de apoio de sua base, as gestões do governo em relação ao assunto são mantidas em sigilo. As reuniões no Ministério dos Direitos Humanos e na Casa Civil não foram divulgadas. O Itamaraty disse que não poderia informar que grupos estão pedindo os vistos por questões de segurança.

Mais entidades

O MDH informou que foi procurado por outras oito entidades “para pedir providências quanto para oferecer apoio na recepção, acolhimento e reassentamento de afegãos interessados em obter vistos humanitários e vir para o Brasil”. Além das três citadas na matéria, também procuraram o MDH a Assembleia de Deus em Imperatriz, no Maranhão, ADF International e Movimento Cristão da Juventude.

A pasta também cita a OAB-MS, a Associação Internacional de Juízas, a Unicamp, a BPW Brasil (Business and Professional Woman) e a rede de lanchonete Giraffas. O MDH não informou com quais dela ele se reuniu e disse apenas que “as tratativas ainda estão em andamento e serão informadas em momento oportuno”. A lista do MDH também contém nomes que ajudaram a Abuna na sua atuação junto ao governo, como a senadora Soraya Thronicke, do PSL de MS.

Já a Casa Civil respondeu que recebeu “pedidos de apoio para dinamizar o processamento das solicitações de refúgio, assegurar o ingresso discreto e seguro dos referidos migrantes e facilitar a formalização de termos de cooperação”.

A assessoria de imprensa da pasta citou a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que busca “trazer magistrados afegãos e suas famílias perseguidos pelo regime talibã”. Eles não mencionaram as entidades religiosas que relataram os contatos com a Casa Civil.

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