Após mais de 40 anos vivendo nas ruas, idosa reencontra familiares: “Milagre de Deus”

A família de Dona Otília foi localizada na cidade de Carpina, estado de Pernambuco por uma força-tarefa, que inclui uma pastora.

Fonte: Guiame, com informações do Acorda CidadeAtualizado: sexta-feira, 22 de outubro de 2021 às 17:44
Dona Otília e família, reencontro após 45 anos. (Foto: Ney Silva / Acorda Cidade)
Dona Otília e família, reencontro após 45 anos. (Foto: Ney Silva / Acorda Cidade)

Otília Maria Loiola de Melo é uma senhora que vivia há cerca de 45 anos em situação de rua em Feira de Santana. Qualquer contato de pessoa estranha, Dona Otília sempre se esquivava.

“Quem transita pelas ruas do bairro Kalilândia e nas imediações do centro e da Rua Germiniano Costa, com certeza já a viu sentada nas calçadas com alguns pertences em uma sacola, com o olhar triste e mantendo o silêncio”, relata reportagem do jornal Acorda Cidade.

A idosa nunca foi de pedir esmolas, mas aceitava quando recebia alguma doação. Dona Otília sempre foi muito educada, agradecia, mas não gostava de continuar a conversa.

Mulher cheia de marcas, silenciosa, aparentando cansaço, quase ninguém conseguia saber nada sobre a vida e a história de Dona Otília. No entanto, sua vida teve uma reviravolta e um sorriso de muita felicidade apareceu em seu rosto. Aos 76 anos, ela reencontrou seus familiares através de uma força-tarefa da equipe do Programa Consultório na Rua, da Secretaria Municipal de Saúde, Ministério Público e Conselho Municipal do Idoso.

O esforço rendeu resultados: a família de Dona Otília foi localizada na cidade de Carpina, estado de Pernambuco. A idosa também é natural de lá e dois sobrinhos foram a Feira de Santana, na Bahia, para encontrá-la e levá-la de volta para o seio familiar.

Cacilda Miranda, presidente do Conselho Municipal do Idoso, acompanhou de perto todo o trabalho da equipe que conseguiu localizar os familiares de Dona Otília e disse em entrevista ao Acorda Cidade que o resultado da força-tarefa foi um resgate de cidadania.

“É um resgate de cidadania das pessoas que estão em um processo de envelhecimento e que às vezes se encontram na nossa cidade. A partir de 2018, como Conselho Municipal de Direitos da Pessoa Idosa reunimos essa rede de saúde de assistência social de movimento de população de rua para discutir e estudar o caso de Otília. Não foi uma coisa que aconteceu ontem. Desde 2012 que o conselho tomou conhecimento do histórico dela e essa situação nos incomodou bastante. O caso dela foi amplamente divulgado em programas de televisão e quadro pessoas desaparecidas. Mas, não tivemos resultado. A busca constante e determinada aconteceu a partir de 2018 junto com toda a rede de apoio”, explicou.

Darlene Santos, que é enfermeira referência do Programa Consultório na Rua, ressaltou sobre o apoio do Ministério Público (MP) no caso de Dona Otília e contou que foi solicitada uma busca de informações através dos documentos pessoais da idosa. O MP mandou a busca para várias cidades até localizar que havia familiares da senhora na cidade de Carpina.

“Através da busca conseguimos encontrar a família dela. Há quatro anos a equipe do Consultório na Rua vem acompanhando Dona Otília que estava em situação de rua. Oferecemos assistência de saúde e social”, afirmou.

Reencontro com os familiares

O taxista Milton Diniz e a sua irmã são os sobrinhos de Dona Otília que foram até Feira de Santana para buscá-la. Milton nem conhecia a tia e nem era nascido quando ela saiu da cidade de Carpina. Ele atribuiu o encontro a um milagre de Deus e contou que sua mãe, sempre falava da tia. Sentia um vazio porque durante mais de quadro décadas não teve nenhuma informação sobre o paradeiro da irmã Otília.

"A informação que a gente tinha é que ela sumiu há quase 50 anos quando foi morar na casa de um primo dela que era médico e morava em Recife. É um milagre de Deus esse reencontro. Minha mãe sempre falava de tia Otília e com a ajuda do povo daqui da Bahia, de Feira de Santana, profissionais encontraram a minha tia. Eu acho que provavelmente ela foi para o interior de Pernambuco, Caruaru e andou pelo sertão até chegar em Feira de Santana. Fomos contactados através do pessoal da Secretaria de Ação Social de Lagoa do Carro e com o pessoal de Feira de Santana. Entraram em contato com a gente, mandaram fotos, várias informações e descobriram que nós erámos a família dela. Eu e minha irmã viemos buscá-la e vamos levá-la para morar com a nossa mãe”, acrescentou Milton.

Ao reencontrar os sobrinhos Dona Otília não escondeu a emoção. O olhar cabisbaixo que ela tinha quando vivia nas ruas já não existe mais. Ela demonstrou muita alegria e segurança perto dos seus familiares. Esbanjou um sorrisão e muito brilho no olhar depois que recebeu o abraço dos sobrinhos.

A equipe multidisciplinar do Programa Consultório na Rua que atendeu a idosa é formada pela enfermeira Darlene, o médico Ritze, psicólogo João Cardoso, Monaliza; assistente social e Jaqueline que é técnica de enfermagem.

Casa de Apoio

Dona Otília Melo, estava há 15 dias morando na Casa de Amparo ao Idoso e Criança do Câncer, em Feira de Santana. A pastora Blandina Maza, que é presidente da instituição, informou que a casa funciona com o trabalho de voluntário e apoio de doações de amigos.

Pra. Blandina Maza, da Casa de Amparo ao Idoso e Criança do Câncer, que abrigou a idosa por um período. (Foto: Ney Silva / Acorda Cidade)

A instituição recebe pessoas que vem do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) e alguns casos de pessoas em situação de rua que não têm ou não localizaram seus familiares.

“Estou nesse trabalho há 11 anos. Tudo aqui é mantido pelo Espírito Santo de Deus que tem movido terra para sustentar esse lugar. Nunca tivemos ajuda do governo municipal, nem estado, nem nada. Recebemos Dona Otília em um momento difícil porque não tínhamos vaga para o pessoal em situação de rua. Ela já tinha passado por várias instituições e depois que surgiu a vaga ela veio para cá. Graças a Deus tivemos mais uma missão realizada”, comemorou a pastora.

Dona Otília Melo foi para a cidade de Carpina em Pernambuco acompanhada de seus sobrinhos. Lá reencontrou e conheceu o restante da família.

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