Países que perseguem a Igreja: como vivem os cristãos em Mianmar

Para os birmaneses a perseguição começa na infância. Os meninos são criados para se tornarem monges budistas.

Fonte: Guiame, com informações de Portas AbertasAtualizado: sexta-feira, 19 de março de 2021 às 14:13
Jovens monges em Sagaing Hill, Mianmar. (Foto: Flickr/Kenneth Back)
Jovens monges em Sagaing Hill, Mianmar. (Foto: Flickr/Kenneth Back)

POPULAÇÃO: 54,8 milhões 
CRISTÃOS: 4,3 milhões 
RELIGIÃO: Budismo, cristianismo, islamismo, animismo e hinduísmo 
GOVERNO: República parlamentarista 
LÍDER: Win Myint
POSIÇÃO: 18º na Lista Mundial da Perseguição

Mianmar ou Birmânia é um país do Sul da Ásia que alimenta um nacionalismo religioso muito forte, além da paranoia ditatorial. A ênfase para o povo birmanês, em questão de fé, está no budismo, e isso acaba impulsionando a perseguição aos cristãos. 

Quem se converte do budismo para o cristianismo é considerado traidor do sistema de crença em que conheceram desde que nasceram. Uma comunidade que pretende permanecer budista torna impossível a vida das famílias cristãs. Um exemplo disso, é negar água para quem acredita em Jesus. 

Para as igrejas também não é nada fácil sobreviver num país assim. Há relatos de templos cristãos que foram atacados por monges que construíram santuários budistas em seu interior. Em áreas rurais os cristãos são atacados por budistas extremistas quando são flagrados em atividades evangelísticas. 

“Os feiticeiros da aldeia viriam para destruir, para matar nossa missão e ministério e aqueles que vivem aqui. Mas eles estão realmente com medo do ministério que desenvolvemos porque estamos trazendo o Evangelho”, disse o pastor Moses, cristão perseguido em Mianmar.

Como funciona o nacionalismo religioso em Mianmar

O país apresenta o cenário de uma guerra civil que foi a mais longa do mundo. Começou em 1948 e, desde então, nunca teve paz. Fica claro que o governo birmanês defende os monges budistas. Mesmo que verbalmente eles demonstrem agir contra o extremismo, na prática fica evidente que o exército os apoia. 

Os cristãos ficam totalmente vulneráveis à perseguição por grupos insurgentes e pelo exército. Em média, mais de 100 mil cristãos no Norte vivem em campos de deslocados internos, onde são privados de acesso a alimentos e cuidados de saúde. A pandemia da Covid-19 acarretou em desafios adicionais, uma vez que muitos cristãos não recebem ajuda governamental. 

Como as mulheres são perseguidas por causa do cristianismo

Em Mianmar, existe a Lei Especial de Casamento para Mulheres Budistas. Ela foi introduzida em 2015 e estipula que um marido não budista deve respeitar a prática do budismo da esposa. 

No entanto, essa proteção não se aplica aos cristãos, que são vistos como cidadãos de segunda classe. As cristãs casadas com homens não cristãos são pressionadas a seguir a religião do marido. Isso impede o crescimento da igreja. 

As jovens que se convertem ao cristianismo são vulneráveis à prisão domiciliar Elas perdem o acesso à comunidade e, dessa forma, é impossível continuar interagindo com outros cristãos. Além disso, elas ficam à mercê de militares, vulneráveis a abuso sexual e agressões físicas. 

Relatórios não confirmados indicam que os militares são encorajados a se casar com mulheres cristãs e convertê-las ao budismo, incentivados pela promessa de dinheiro ou promoção. Muitas mulheres se sentem resignadas a esse destino e veem esses casamentos como uma forma de escapar da extrema pobreza e da insegurança. 

Também há relatos que sugerem que mulheres cristãs no estado de Kachin estão sendo traficadas para a China para se tornarem “noivas”, onde são abusadas sexualmente com o objetivo de engravidarem. 

“Cerca de 130 mil kachin, mais de 90% dos quais são cristãos, foram deslocados dentro de seu estado” na segunda metade de 2018, de acordo com o Wall Street Journal em dezembro de 2018. 

Problemas enfrentados por homens cristãos

Os homens pagam o preço mais alto por seguir Jesus. Embora as estatísticas sejam evasivas, cristãos foram sequestrados e mortos, supostamente pelo Exército Arakan. No exército, muitos são forçados a abandonar a fé. 

O exército é conhecido por impor trabalho forçado aos cristãos, para impedi-los de comparecer aos cultos de domingo e ter acesso à comunhão cristã. Homens são alvos de recrutamento para milícias; aqueles que se recusam enfrentam espancamentos e ameaças. 

Sabendo que os homens em Mianmar são os principais provedores do lar, se eles perderem o emprego ou forem forçados a deixar a aldeia por causa da fé em Jesus, o impacto financeiro em uma família inteira pode ser paralisante. Essa é a dura realidade para muitos convertidos no país. 

Um meio eficaz de impedir que o cristianismo atravesse gerações são as escolas “Na Ta La”, que têm por objetivo converter crianças cristãs, criando-as para se tornarem monges budistas. Ao entrar na escola, a cabeça dos meninos é raspada, eles recebem roupas de monges e circulam pela comunidade local mendigando comida. 

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