Famílias são obrigadas a adorar ao presidente da China e cristão reage: “Ele não é Deus”

O idoso de 84 anos expressou sua tristeza em ter de remover objetos cristãos de sua casa, mas afirmou que não irá adorar ou orar ao presidente.

Fonte: Guiame, com informações da Bitter WinterAtualizado: quinta-feira, 13 de agosto de 2020 às 15:09
Pessoas passam por um pôster do presidente chinês Xi Jinping ao lado de uma rua em Pequim. O controle cada vez maior de Xi Jinping sobre a China já rendeu ao líder comparações com Mao Tsé Tung. (Foto: AFP / GREG BAKER)
Pessoas passam por um pôster do presidente chinês Xi Jinping ao lado de uma rua em Pequim. O controle cada vez maior de Xi Jinping sobre a China já rendeu ao líder comparações com Mao Tsé Tung. (Foto: AFP / GREG BAKER)

Um cristão de 84 anos na província de Shanxi, China, estava entre as pessoas de pelo menos cinco províncias que receberam ordens de remover de suas casas qualquer objeto que faça referência à fé cristã e os substituam por fotos do presidente Xi Jinping, informou a revista de direitos religiosos Bitter Winter. Porém o idoso está se opondo à ordem de adorar ao presidente.

"O secretário do Partido Comunista Chinês [PCC] do município me pediu para tirar e jogar fora a cruz e me disse para orar ao presidente Xi Jinping [e não mais a Deus] a partir de então", disse o cristão não identificado à revista Bitter Winter. "Xi Jinping é um homem, não é Deus. Sinto-me triste com a descida da cruz, mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso".

Isso foi em junho. Desde maio, oficiais do Partido Comunista Chinês em Shanxi, Henan, Jiangxi, Shandong e outras províncias ameaçaram retirar os benefícios de bem-estar social com os quais as pessoas pobres contam para se alimentar, especialmente durante a pandemia do coronavírus, caso se recusem a substituir objetos cristãos pelas fotos do Xi Jinping, relatou a revista.

“Em junho, um oficial da vila no condado de Lin, administrado pela cidade de Lüliang, no norte da província de Shanxi, notificou repetidamente os moradores por meio das mídias sociais que deveriam remover todos os símbolos religiosos de suas casas”, relatou Bitter Winter. “Ele afirmou que a cruz simbolizava ensinamentos heterodoxos, que deveriam ser eliminados de acordo com as ordens das autoridades superiores. Caso contrário, eles serão responsabilizados criminalmente. O funcionário enfatizou que as famílias pobres devem substituir os símbolos por imagens do presidente Xi Jinping”.

Autoridades do condado de Lin ameaçaram cancelar as verbas de combate à pobreza se os residentes se recusassem a descartar seus livros religiosos e outros itens, de acordo com a revista, citando um cristão que disse que todas as famílias foram obrigadas a exibir retratos do presidente Xi, e que os residentes deveriam expor fotos de si mesmos ao lado desses quadros ou porta retratos. Em junho, as autoridades locais forçaram esse homem a substituir a cruz que ele tinha sua casa por um retrato do presidente Xi.

Na província de Jiangxi, no sudeste, as autoridades destruíram em maio cruzes e outras imagens cristãs nas casas de membros da ‘Igreja das Três Autonomias’ (movimento patriótico oficialmente reconhecido e legalizado pelo governo chinês).

“Os funcionários disseram aos crentes que eles estavam implementando ordens emitidas pelo Estado”, relatou outro cristão à Bitter Winter. “Embora relutantes, os cristãos empobrecidos tiveram que remover os símbolos, pois os funcionários ameaçaram cancelar sua pensão de subsistência se eles desobedecessem. ‘As pessoas devem seguir o partido que lhes dá dinheiro, não Deus’, afirmaram os funcionários”.

Um cristão de baixa renda com assistência social em Qiaoshe relatou que as autoridades disseram a ele que, uma vez que ele cria em Deus, deveria pedir-Lhe comida em vez de viver da ajuda do Partido Comunista, de acordo com a revista.

Contexto

As medidas parecem ser parte de uma campanha intensificada contra grupos cristãos, que são considerados uma ameaça ao governo do Partido Comunista Chinês desde que Xi se tornou presidente em 2013. No ano anterior, o partido havia formulado cinco novas “categorias negras” de grupos a serem reprimidos, que incluem advogados de direitos humanos, entidades religiosas clandestinas, como igrejas domésticas, dissidentes, comentaristas na Internet e grupos sociais desfavorecidos.

Willy Wo-Lap Lam, autor da obra "The Fight for China's Future" (“A Luta Pelo Futuro da China”), residente em Hong Kong, observou em um discurso recente no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong que o presidente Xi Jinping colocou igrejas sob pressão, incluindo vigilância onipresente, porque se sente ameaçado de que os cristãos devem superar em número os membros do Partido Comunista em 15 anos.

“O que quer que as igrejas estejam fazendo, elas são investigadas e suas atividades são divulgadas às autoridades”, disse Lam. “Mas, no entanto, a boa notícia é que esses vários milhões de cristãos conseguiram manter uma organização em todo o país e, se surgir a oportunidade, eles podem ser muito abertos em relação à liberdade de expressão, a liberdade de religião e estão dispostos a arriscar sua liberdade pessoal para buscar um mundo onde a religião possa ser observada livremente”.

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