'Hikikomori': como o isolamento social está destruindo a saúde mental dos jovens?

Os "hikikomoris" – como são chamados os jovens que vivem sob isolamento social – se tornaram um problema cada vez mais grave no Japão.

Fonte: Guiame, Marisa LoboAtualizado: quarta-feira, 18 de outubro de 2023 às 18:23
(Foto: Wikimedia Commons)
(Foto: Wikimedia Commons)

No início da década de 1990, o Japão passou a identificar um comportamento atípico em sua juventude, marcado pelo forte isolamento social. Alguns anos depois surgiu a expressão "hikikomori", utilizada pelo psicólogo Tamaki Saito em um livro onde ele aborda o assunto, comparando o problema a uma espécie de estagnação na adolescência.

Desde então, os "hikikomoris" – como são chamados os jovens que vivem sob isolamento social - se tornaram um problema cada vez mais grave no Japão, tornando-se uma questão de saúde mental nacional. Hoje, sabemos que esse é um fenômeno registrado em várias partes do mundo, e não apenas na Ásia.

A principal característica do problema é o isolamento social. De acordo com um artigo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos pelo Dr. Takahiro A. Kato, professor associado do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade de Kyushu, em parceria com outros, alguns fatores se destacam nesse comportamento, como o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como videogames e a internet.

Os hikikomoris chegam a ficar tão isolados que muitos quase não saem de seus quartos, passando a evitar contato até com os próprios familiares. Alguns não saem nem para comer, desenvolvendo problemas de subnutrição. Por causa disso, muitos pais resolvem alimentar os filhos deixando refeições na porta dos seus quartos ou em locais onde eles possam apanhá-las sem serem vistos, ficando a comunicação restrita ao mundo virtual.

Questões importantes

Feita essa contextualização, quero fazer alguns alertas aos pais dos jovens que podem estar sujeitos a esse problema. Primeiro, temos uma questão que não deve ser meramente "patologizada", no sentido de tratá-la como um problema psiquiátrico-farmacológico.

Antes de tudo, devemos entender esse problema a partir de uma perspectiva cultural, fenomenológica e humana, nos fazendo as seguintes perguntas: até que ponto a oferta de conteúdos virtuais está influenciando na digitalização das relações humanas, consequentemente nos levando ao adoecimento emocional?

Até que ponto nós, como pais e sociedade, estamos contribuindo para que os jovens tenham acesso aos conteúdos virtuais, sem exercer critério sobre eles, filtrando e limitando o tempo de exposição a aparelhos de tela, por exemplo, no tempo correto e da maneira certa?

Até que ponto a banalização das tradições, dos costumes e da moral em nossa cultura atual, tem contribuído para que os jovens percam o interesse nas questões essenciais da vida, preferindo mergulhar, literalmente, em um isolamento virtual como mecanismo de fuga do mundo real?

Como podemos notar, são questões que precisam ser analisadas, a fim de que os hikikomoris possam ser, talvez, melhor compreendidos, em vez de resumidos a uma problemática individualista e psiquiátrica, destituída de um contexto amplo e complexo de caráter sociocultural.

Conclusão

Como sociedade, especialmente enquanto pais, devemos investir na saúde mental dos nossos filhos, promovendo ações que sirvam de incentivo para que eles tomem iniciativas criativas, plurais e sociáveis.

Como cristãos, devemos ter um olhar especial sobre o papel da Igreja, porque sem dúvida o ambiente de convivência congregacional pode ser a melhor ferramenta de prevenção desse e outros transtornos de saúde emocional entre os jovens. Que Deus, assim, nos dê sabedoria e discernimento para agir de forma apropriada.

Referência:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/pcn.12895

Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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