Senhores do Senhor

A sensação é de que todos querem um “deus” para cobrir suas contas, curar suas doenças, arrumar casamentos, abrir portas e portas e portas...

Fonte: guiame.com.brAtualizado: quinta-feira, 21 de agosto de 2014 às 18:54
acusação
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acusaçãoO que dizer ou pensar de frases tipo: “Deus tem obrigação de te abençoar!”, “Ou Deus faz ou Deus faz!”, “Se Deus não fizer, rasgo minha bíblia.”

Temos sido testemunhas de atitudes e falas – chamadas pregações – verdadeiramente escabrosas sobre relacionamento do homem – mero ser mortal – com Deus, o Senhor de tudo o de todos. O salmista declara: “Louvai ao Senhor dos senhores; porque a sua benignidade dura para sempre” (Salmos 136.3). Ora, não só Ele é eterno, como a sua benignidade o é. Porque o que dura para sempre é eterno! Acredito que essa seja a razão da tolerância de Deus para com esses “senhores” que querem comandar o Senhor.

Não estou igualando os ensinamentos verdadeiramente bíblicos de fé e convicção do poder de Deus com estes tais ensinos. Mas até mesmo aquilo que ouvimos, de que devemos chamar a existência o que não existe não é bem assim. O apóstolo Paulo diz que quem faz isso é o próprio Deus. Veja: “Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem, como se existissem” (Romanos 4.17)

Ou seja, quem faz é Deus pelo seu poder, vontade e soberania. O homem recebe, se for o caso.

O grave sobre a inversão destes valores é que aqueles que ouvem estas mensagens, pregadas pelos pastores púlpitos afora, acreditam nelas. Aos poucos, tornam-se senhores e começam a exercer essa “autoridade” e a exigir de Deus que Ele faça alguma coisa em suas vidas.

Como disse no início do artigo: o que dizer sobre tudo isso?

A sensação é de que todos querem um “deus” para cobrir suas contas, curar suas doenças, arrumar casamentos, abrir portas e portas e portas... Claro que cremos que Deus nos abençoa em tudo porque simplesmente Ele é Deus e não há nada impossível a Ele. Nada que o limite. Nada que o impeça. Nada que o desafie.

O que tratamos aqui é sobre a inversão do senhorio. A inversão de papeis, onde a criatura dá ordem ao Criador.

“Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? Diz o Senhor (vou repetir: diz o Senhor) Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.” (Jeremias 18.6) Ai, meu Deus! Claro, claríssimo esse texto. Ele fala que somos vaso (de barro) na mão Dele. O comando absolutamente e exclusivamente está nas mãos do oleiro. O vaso pode até ter problema (defeito), mas quem decide o que fazer é o manipulador do vaso, ensina os versos anteriores.

Bem, diante disso, ficamos pensando: de onde veio a ideia de que podemos exigir alguma coisa de Deus? Que “teologia” é essa?

Bom mesmo é depender do Senhor. Não falta nada para quem se coloca como Seu dependente. Porque Jesus disse que ficamos ansiosos e que esse comportamento – destrutivo – nada resolve.

Preciso reproduzir aqui esse texto: “Disse aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes. Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós do que as aves? E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura? Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras? Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos. Porque as nações do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas.” (Lucas 12.22-30) (grifos meus)

Jesus recomenda que não fiquemos perguntando a Deus sobre certas “necessidades” que temos, porque Ele bem sabe a respeito delas. O que será que Ele pensa sobre as ordens que saem de toda parte para que Ele faça, e resolva, e mude, e nos obedeça? O correto é orarmos.

Diante desta reflexão não fica difícil entendermos até mesmo algumas letras de “hinos” que dizem que nós podemos, nós realizamos, nós determinamos. Nós, nós, nós... Os senhores.

Talvez seja o caso de nos colocarmos em nosso lugar e passarmos a buscar do Deus que “tudo” pode, e por meio das suas misericórdias que se renovam a cada manhã, condições para vivermos uma vida digna, cheia de graça, livre do mal, abençoada com o pão de cada dia. Ele é o Senhor que comanda!

Alguém entendeu isso. “E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar. Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz. E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé” (Mateus 8.8-10)

Para Jesus esse entendimento chama-se ou resume-se a “fé”.


 Adriana Bernardo - pastora, jornalista e escritora

 

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