‘A palavra de Deus entrou rápido em meu coração’, diz ex-sambista evangelizado no Carnaval

Os integrantes do bloco acreditam que o Carnaval é um local de pregação e o samba, um meio de pregar.

Fonte: Guiame, com informações do UOLAtualizado: quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020 às 13:35
Willian Batista (centro) deixou a droga e as noitadas depois de conversar com evangélicos no sambódromo. (Foto: Reprodução/Felipe Pereira)
Willian Batista (centro) deixou a droga e as noitadas depois de conversar com evangélicos no sambódromo. (Foto: Reprodução/Felipe Pereira)

Willian Batista é um ex-carnavalesco alcançado pelo evangelismo promovido por cristãos no Carnaval de 2008. Hoje aos 47 anos e cristão, ele conta um pouco de sua vida antes e depois de se converter a Jesus.

Em entrevista ao UOL, ele relatou que tinha afundado o nariz no pó [cocaína] e entornado quantidades industriais de cerveja e uísque. Aos 25 anos, era compositor na cena do samba e do pagode paulistano. Seus parceiros de festa iam de juízes a integrantes do grupo criminoso PCC.

Willian diz que estava sob o estilo "vida loka" e assim foi ao desfile das escolas de samba de São Paulo daquele ano, quando foi abordado por um grupo de cristãos que estava evangelizando no Carnaval.

Ele conta que não concebia ir para a avenida sóbrio. E foi com desdém que aceitou falar com o grupo de evangélicos que pedia para dizer umas palavras antes de entrar no sambódromo.

“[Aquelas palavras] entraram por um ouvido e saíram rápido pelo outro. Eu estava doidão, sem condições de entender qualquer recado. Logo falei que minha escola ia desfilar e fui embora”, lembra.

Willian disse que “uma jovem, a que menos falou, a mais tímida, me seguiu e disse: ‘Deus tem uma obra para você!’”. Mas ele diz que “esse negócio de crente não pegava comigo porque meu negócio era samba, Carnaval e cheirar.”

O trabalho do grupo não foi em vão na vida de Willian. Ele conta que a frase da jovem martelou em sua cabeça durante o desfile e ele recusou o convite para a festa que haveria depois, mesmo com sua programação favorita que teria no lugar: bebidas, cocaína e mulheres.

"Fui largando a bebida e a droga. Antes, vivia da noite e para a noite. Eu ganhava R$ 500 e chegava só com R$ 100 em casa. Deixei de frequentar a prostituição também. Minha vida nunca mais foi a mesma", relata.

O resultado é que hoje Willian é pastor. Além disso, ele usa a mesma estratégia com a qual foi alcançado para evangelizar pessoas no Carnaval.

Bloco evangélico

Willian usa seu talento musical, especialmente focado no samba, para evangelizar. Atualmente ele participa de um bloco evangélico chamado “Ide”, que foi criado no ano passado em São Paulo.

“A inspiração veio de um versículo bíblico que está no livro de Marcos. O capítulo 15, versículo 16 diz: 'ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda criatura. E aquele que crê e for batizado será salvo'. Jesus comissionou os cristãos a pregarem o evangelho da salvação”, explica a fundadora do bloco, Silvia Fagá.

Os integrantes do bloco acreditam que o Carnaval é um local de pregação e o samba, um meio de pregar.

Willian é a materialização deste raciocínio. Os integrantes do Ide não bebem, nem fumam. O pré-Carnaval do bloco ocorreu no último sábado (15) com as geladeiras abastecidas de refrigerante e água mineral.

Pessoas de fora da religião são muito bem-vindas, afirma Silvia. Este é o público-alvo que os evangélicos pretendem atingir. Mas poucos foliões não crentes apareceram.

Pregando no Carnaval

Neste ano, o Ide aconteceu em uma tenda montada numa praça da periferia de São Paulo. Foram oito atrações musicais entre grupos e cantores solo do pagode e do samba gospel.

Quase todo tempo seus cerca de 200 integrantes ficaram embaixo da tenda tocando e cantando. A saída do bloco durou 20 minutos e eles percorreram algumas quadras atrás de uma picape equipada com caixas de som que fez a vez de trio elétrico.

É uma festa na pracinha com crianças brincando na quadra ao lado, enquanto os mais crescidos se equilibram na pista de skate. Mas o pagode e o samba gospel corre solto nas maiores vozes do estilo. Nice Garcia, considerada a "Beth Carvalho do samba gospel", está presente e todos estão se divertindo.

Bloco é mistura de igrejas

O Ide é composto por grupos e cantores que pertencem a diferentes congregações. O pastor Willian ressalta que na sua banda há pessoas de diversas igrejas, que tocam louvores de composição própria em ritmo de samba e pagode. Eles também tocam adaptações de músicas gospel gravadas em outros ritmos.

Tenda onde os integrantes do bloco evangélico de São Paulo fizeram concentração. (Foto: Reprodução/Felipe Pereira)

"Nossas músicas têm um teor cristão, hoje considerada música gospel. Sempre são mensagens bíblicas, temas relacionados a palavra de Deus", explica a fundadora do Ide.

As músicas sempre têm inspiração na Bíblia. O samba-enredo do bloco neste ano foi composto pela dupla Glauco Leão e Zequinha Costa. O refrão reflete a missão de evangelizar na folia.

"Jesus mandou eu vou. Ide vós também. Falar do seu amor. E semear o bem."

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