Seria irresponsável dizer agora que o coronavírus é castigo de Deus, diz teólogo

Dr. Rodrigo ressaltou que para analisar essa questão com sobriedade, é preciso evitar os extremos.

Fonte: GuiameAtualizado: segunda-feira, 30 de março de 2020 às 15:59
Rodrigo Silva é doutor em teologia e historiador. (Imagem: Youtube / Reprodução)
Rodrigo Silva é doutor em teologia e historiador. (Imagem: Youtube / Reprodução)

"Onde está a providência de Deus em tudo isso? O que tem Deus a ver com esses acidentes, catástrofes?". O questionamento foi feito pelo teólogo e historiador Rodrigo Silva, ao abordar a questão do coronavírus como pandemia que tem se espalhado por todo mundo e deixado as nações alarmadas com seus efeitos.

Após embasamento bíblico em diversas passagens, como Romanos 7:17-18, Jeremias 13:23, Jó 34:18, Isaías 45:7, Amós 3:6 Dr. Rodrigo lê uma passagem estrategicamente relevante para esta reflexão, que está em Eclesiastes 9:11 e diz: "Voltei-me, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a batalha, nem tampouco dos sábios o pão, nem tampouco dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos o favor, mas que o tempo e a oportunidade [acaso] ocorrem a todos".

"Então, eu tenho aqui quatro personagens na história e qual deles estaria por trás do coronavírus? Seria Deus, o diabo, o ser humano ou o acaso? Se for Deus, então quer dizer que Deus queria que o coronavírus viesse aqui para castigar; se for o diabo, então o diabo colocou o coronavírus aqui, porque gosta de fazer as pessoas sofrerem; se for a humanidade, o coronavírus é cula dos chineses, que não estavam comendo direito ou do governo chinês que não avisou o povo, não avisou ao mundo; ou o acaso, porque vírus acontecem, se espalham", destacou.

"A Bíblia parece abrir espaço para esses quatro agentes. Então, como é que eu resolvo essa questão aqui?", acrescentou.

Dr. Rodrigo ressaltou que para analisar essa questão com sobriedade, é preciso evitar os extremos.

"Há alguns extremos que devem ser evitados aqui. Um extremo é tentar colocar o carimbo divino, transcendente, espiritual, de que tudo que acontece agora, tem Deus ou o diabo por trás. Outro extremos é achar que as coisas são apenas consequências naturais e que não existem forças do bem ou do mal agindo por aí", lembrou.

"O quarto jogador é o próprio Deus. Mas aqui eu tenho que abrir uma nota de rodapé. Você pode pensar: 'Deus deveria ser o jogador-mor'. E ele é! Mas se estamos no meio de um grande conflito entre o bem e o mal, isso por si mostra que Deus não está batalhando contra o mal, usando os poderes de Deus. Raciocina comigo: 'se Deus lutasse contra o mal, usando os poderes de Deus, não haveria luta'", explicou.

Rodrigo desenvolveu seu raciocínio, destacando que o fato de Deus fazer uso de Seu caráter em vez de Seu pleno poder nessas situações está relacionado à justiça que Ele mesmo promove.

"Por alguma razão, Deus resolveu usar não o Seu poder, mas o Seu caráter nessa batalha. E sabe por que Ele usa Seu caráter? Para que nem o diabo, nem ninguém possa dizer que Deus foi injusto, sem dar chance ao mal dele se mostrar como realmente é", destacou. "Deus poderia salvar a humanidade na forma de Deus, mas preferiu fazer isso na forma de ser humano".

Dr. Rodrigo então lembrou que Deus nem sempre age com milagres sobrenaturais aos olhos humanos, mas também de formas discretas.

"Muitas vezes a gente só quer ver Deus abrindo o mar vermelho, mas se esquece que Ele também age de forma discreta", disse.

Voltando à questão específica da pandemia do coronavírus, o teólogo reconheceu que não seria sensato rotular o contexto como um castigo divino, justamente pela falta de peças nesse grande quebra-cabeça, que ainda está sendo montado.

"Como estamos no olho do furacão, seria muito irresponsável. Por outro lado, também seria uma covardia teológica eu não admitir a possibilidade que sejam castigos de Deus que já estão caindo no mundo", afirmou.

Clique no vídeo acima para conferir o vídeo completo.

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