A África precisa não só de doações, mas também de ensino bíblico, diz missionário

O missionário Saulo Porto, diretor de ensino da Missão Mãos Estendidas, fala sobre a necessidade de discipulado nas nações africanas.

Fonte: Guiame, Luana NovaesAtualizado: quarta-feira, 19 de junho de 2019 às 15:40

Embora as doações para comunidades necessitadas na África sejam comoventes, são os fundamentos estabelecidos através do ensino bíblico que transformam as pessoas, de acordo com o missionário Saulo Porto, diretor de ensino da Missão Mãos Estendidas (MME).

Em entrevista ao Guiame, Saulo explica que aulas de formação bíblica não são atraentes em termos de missões, mas o ensino é essencial para o estabelecimento de alicerces em uma nação.

“É muito ‘fácil’ chegar em qualquer aldeia africana e distribuir farinha. É importante? É. Mas daqui cem anos você vai voltar e encontrar o mesmo povo querendo farinha. No entanto, se você começar a trabalhar com o processo de educação, com os fundamentos — é o tipo de trabalho que poucas pessoas veem — você está desenvolvendo a vocação de uma criança ou o potencial de discípulo de um pastor, e isso faz com que aquela pessoa caminhe em direção à vontade de Deus”, afirma.

Porto observa que os países da África apresentam diferenças em sua cultura e espiritualidade. Enquanto algumas nações africanas possuem tradição protestante, outras passam por costumes católicos e até animistas, tornando-se mais resistentes às mudanças.

“Segundo a tradição protestante, as pessoas precisam ser educadas para se desenvolver dentro da sociedade. Quando você vai para outro tipo de missiologia — por exemplo, quando acreditamos que o importante é apenas a salvação da alma — você não se importa muito com esse tipo de desenvolvimento humano”, analisa o missionário.

“O que você quer é evangelizar a pessoa, colocar ela na igreja e esperar Jesus voltar para ela ir para o céu. Desse jeito, você consegue logicamente o principal na vida da pessoa, que é a salvação, mas ela não se desenvolve e não se torna discípula”, acrescenta.

Para exemplificar Porto cita Moçambique, que é extremamente aberta para o Evangelho, mas “muitas igrejas não enfatizam a parte do ensino e desenvolvimento do discípulo”. Já em outras nações de tradição britânica ou protestante, como Zâmbia, Zimbábue e Malawi, é possível observar pessoas “valorizando muito mais a parte do ensino”.

Quando se trata de questões teológicas e doutrinárias mais profundas, Porto esclarece que o importante é estabelecer os “absolutos morais” durante o ensino no campo missionário.

“Quando nós focamos nos absolutos estamos discipulado a nação, ao invés de estarmos discutindo qual é a cor da asa do anjo”, exemplifica. “O que fazemos é colocar ênfase nos absolutos morais que vão transformar a vida do povo”.

Preparação ministerial

Porto esclarece que não há como estabelecer um currículo que sirva de pré-requisito para o campo missionário, mas é preciso estar em constante preparação. “O bom missionário é aquele que aprende a ouvir a Deus e obedecer”, destaca.

Ele ainda dá um conselho para as pessoas que desejam ser missionárias: “Não existe nenhum chamado repetido. Todo chamado é original. Você não desenvolve seu chamado fazendo Ctrl+C e Ctrl+V. Você tem que descobrir qual o caminho específico que Deus tem para sua vida. Por você ser uma pessoa original e única, o seu chamado também é original e único. Você precisa saber quem você é em Deus”.

Esta é a mesma ênfase dada por Porto aos pastores de aldeias africanas durante o Seminário Bíblico Intensivo, promovido pela MME. “Trabalhamos muito para desconstruir aquela ideia de que trabalhamos para Deus”, afirma. “Antes de trabalhar para Deus, somos chamados a trabalhar com Deus. Neste aspecto é que surge o missionário”.

“Porque o missionário não é aquele que faz coisas que ‘dão na telha’ para Deus, mas são pessoas que decidiram trabalhar e caminhar com Deus e executar as ideias e a agenda do Reino de Deus nas nações”, acrescenta.

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