Entreguei o pastorado

Entreguei o pastorado

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:11

Um pouco do que eu falaria quando entreguei o pastorado da minha igreja, não falei. Escolhi escrever, pois falando, eu choraria um bocado, acho. Todas as coisas que me são caras, me emocionam demais. Me envolvo com paixão exigente, querendo nada mais que somente o melhor. O que nem sempre consigo, claro. Então me frustro. Quando consigo, agradeço. Tudo sempre no limite. Com razão e emoção. Por vezes mais razão, outras vezes mais emoção. É assim que sou. E por ser assim preferi pouco falar para evitar o choro confuso da inevitável emoção. Então, escrevo.

Após refletir, ponderar e orar nos últimos dois anos juntamente com minha esposa, entendi que era a hora de entregar o pastorado. Meus últimos catorze anos foram assim divididos: sete como co-pastor, sete como pastor titular. Foram catorze anos de voluntariado. Fácil não foi, mas certamente foi enriquecedor para amadurecer um pouco mais a minha alma. Nossa comunidade tem uma média de trezentos membros. É uma boa igreja. Equilibrada, hospitaleira, acolhedora, composta por gente fácil de se amar.

Nestes catorze anos, mais do que ministrar, fui ministrado. Invariavelmente, toda volta de uma visita, de um velório, de um aconselhamento ou de um simples culto doméstico, foram voltas com o coração renovado e fortalecido pelos gestos e palavras que vi e ouvi, sempre inesperados e, por isso mesmo, surpreendentes. Acompanhei o crescimento de crianças, vi jovens se apaixonarem, depois vi e fiz casamentos, vi nascerem filhos, enfim, vi o mover do Espírito abençoando e formando famílias. Entrei e saí de reuniões, estudos e palestras onde aprendi e ensinei, curti e compartilhei, ministrei e fui ministrado.

Sofri para pregar. Muitas vezes gemi. Dedico toda minha concentração para expor uma mensagem, antes, durante e depois. Cada nova mensagem traz consigo um novo desafio. Uma nova mensagem tem de ser, de fato, nova. E isso é um baita desafio. Catorze anos ministrando a Palavra num mesmo lugar. Pense nas dificuldades que isso representa. Você não pode repetir, imitar, envelhecer, caducar. Sua mensagem tem de ser atual, consistente e relevante, sempre que for menos que isso, deixa de ser pão. Aí é duro, as ovelhas podem enfraquecer, sentir fome. Como pastor-ovelha que sou, várias vezes tremi por imaginar que o pão espiritual que entreguei não estava saboroso, quentinho, suculento. Nessas horas eu recorria ao exemplo da Regina durante os nossos 23 anos de casamento, que na cozinha nunca importou os recursos ou a quantidade de alimento, ela sempre preparou o melhor para o nosso alimento, tudo muito simples na maioria das vezes, mas sempre regado com muito amor.

No trabalho eclesiástico em si fui privilegiado, não tenho dúvidas. Deus me deu os melhores braços e pernas, os melhores cérebros e corações. Com cada consagrado com quem trabalhei pude aprender algo. Cada leigo que ofertou seu trabalho, cada criança, cada jovem, cada casal, cada ancião, cada músico, todos foram fantásticos na contribuição para a saúde e o crescimento do corpo de Cristo. Nos ajudamos. Brigamos. Discutimos. Enfrentamos diferenças. Arregaçamos as mangas. Dividimos cargas. Suportamos humilhações. E tudo isso sempre com ética, respeito e tolerância. O resultado, pelo menos para mim, é que crescemos. Em cada etapa, em cada meta, no final Cristo prevaleceu.

Pastorear meu pai e parte dos meus irmãos foi um presente. Todos intercederam, ajudaram, foram solidários. Foi ótimo e difícil. Ótimo porque sangue é sangue. Difícil porque sempre tem olhares desconfiados dos demais em relação as supostas proteções que um pastor pode dar à sua família. 

Meus filhos me fizeram mais pastor. Por eles orei mais. Me dediquei mais. Vivi o sonho que se transformou em realidade: batizei os dois. Vi ambos se engajarem nos projetos e missões da igreja. Sou grato, e ao Pai sempre devedor. 

Minha esposa está nas linhas e entre-linhas de todos os textos que escrevo, os livros que me atrevo, as mensagens que proclamo, as palestras que dou. Sem a Re não haveria ministro nem ministério. Só fui e sou pastor porque ela encarou pastorear comigo, sem vacilos, lamentos ou lamúrias, apenas amor e fé.

Se eu tivesse que sintetizar estes catorze anos numa frase, esta seria: Glória a Deus! Pois tudo que aconteceu, que sou, que tenho, que produzo, que vivo, enfim, tudo vem dEle, o Soberano Deus que controla toda nossa vida. A Cristo exalto e proclamo, pois para mim foi uma honra imerecida pastorear por este tempo as ovelhas pertencentes a Ele, o Pastor que nunca cansa, nunca cochila e jamais perde uma batalha.

Mesmo assim, com tudo o que você leu, chegou a hora de entregar o pastorado. Como voluntário, meu tempo está cada vez menor. Frente a toda agenda, meu médico orientou uma estratégica e prudente desacelerada na minha preenchidíssima e acelerada rotina. Graças a Deus estou bem! Esta tudo em ordem com minha saúde. Trata-se apenas da boa e velha sabedoria que afirma ser melhor prevenir do que remediar, ou trocando em miúdos, do que remédio dar!

Continuo atuando pastoralmente junto a pastores e esposas, ministrando nos mais diferentes eventos numa agenda apertada, escrevendo para blogs, portais, revistas e livros, passando estudo bíblico, pregando nos mais diferentes púlpitos, ministrando para casais e adolescentes, falando de sexualidade com solteiros, enfim, continuo servindo como pastor e, ao mesmo tempo, cheio de expectativa frente a uma série de projetos e possibilidades que se apresentam.

Sinto-me bem e em paz, apoiado pelas pessoas mais importantes na minha vida. Peço sua oração, pois sem oração não vamos a lugar algum. Tenho, ao lado da minha esposa, muitos outros sonhos para os novos ciclos que virão. Tranquilo espero, pois tudo está nas mãos de Deus.

Paz!

 

por Edmilson Mendes
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