Educação teológica - parte 1

Educação teológica - parte 1

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:29

A Igreja brasileira vive um momento singular em sua história. O crescente número de igrejas e denominações trouxe visibilidade aos evangélicos. Atingimos todas as classes sociais, estamos na mídia numa explosão de programas em todos os meios de comunicação. Há modelos diferenciados de ministérios, uns com liturgias exóticas e outras que se mantém na tradição. Mas, o que mais preocupa, é que esse crescimento quantitativo não tem sido acompanhado nem marcado pela qualidade. É ai, que reside a premente necessidade da Educação Teológica.

Há templos cheios, mas púlpitos vazios, há coreografias e louvores em diversificados ritmos, mas nem sempre é possível ouvir o som da poderosa voz de Deus. Há muitos valores contabilizados, mas os valores do caráter cristão estão escassos.

Precisamos de uma reforma, precisamos voltar às Escrituras e isso só é possível se a Escola Teológica se empenhar em formar homens e mulheres comprometidos com o ensino das Escrituras. Certamente há no Brasil centenas de Instituições de ensino teológico, alguns com o padrão do MEC, outros preocupando-se apenas com o estilo da sua comunidade, mas há necessidade de um modelo de educação teológica que:

Prepare ministros de forma integral Forme ministros comprometidos com o ensino das Escrituras Priorize o caráter no exercício das suas funções Ofereça oportunidades para a prática ministerial Prepare líderes que sirvam às igrejas. Nossa reflexão relaciona a tarefa de formar pastores/ministros com a missão da Igreja. É sobre esse modelo que refletiremos em seguida.

Uma Educação teológica de qualidade deve preparar o ministro de forma integral

O princípio fundamental da educação, é contribuir com o desenvolvimento integral da pessoa, é considerar o aluno como um todo evitando sua fragmentação. É um modelo que parte da visão integral do indivíduo e enfatiza a formação de vidas maduras do ponto de vista intelectual, social, operacional, pessoal (ontológico) e afetivo. Como educadores na área da teologia, somos desafiados a elaborar um programa pedagógico que alcance os alunos como ser integral, dando-lhes a oportunidade de crescer como pessoa e desenvolver suas habilidades e competências para um ministério bem sucedido, que atenda a realidade da Igreja brasileira e do mundo pós-moderno. No trabalho educacional, o ensino teórico e prático não pode estar desassociado para que a formação do ministro seja integral e a Igreja cumpra sua missão holística. Inserir conteúdos para valorização da cultura, da ética e da cidadania e os conhecimentos adquiridos das experiências formais e informais, prepara o aluno para adentrar no ministério contextualizando a mensagem do Evangelho às novas realidades e contextos da nossa época. Capacitá-los para unir o saber às evidências do contexto.

"É colocar o homem como sujeito da educação e, apesar de uma grande ênfase no sujeito, evidencia-se uma tendência interacionista, já que a interação homem-mundo, sujeito-objeto é imprescindível para que o ser humano se desenvolva e se torne sujeito de sua praxis."1 Para este modelo será necessário rever os objetivos educacionais, o planejamento curricular, o conteúdo programático, o preparo do professor e a visão do aluno.  Só um ser total é capaz de se realizar plenamente naquilo que executa e no desempenho do seu ministério.

A Educação Teológica deve formar o ministro comprometido com o estudo e o ensino da Escritura Sagrada.

O verdadeiro ensino a que se propõe a Teologia é o ensino da Palavra. É necessário dar atenção a interdisciplinaridade, porém nenhum conteúdo curricular deve sobrepor-se a voz de Deus expressa no texto sagrado. "Continuamos convictos de que a Palavra de Deus fornece o paradigma atemporal que define a natureza e as características do pastorado."2 Se a Escritura não tiver a centralidade da vida e da prática ministerial, não podemos afirmar que somos profetas para nossa geração. Infelizmente presenciamos muitos pregadores, não digo a penas os televisivos, ou os neo-pentecostais, mas pastores que passaram por renomados seminários e que substituem a Escritura Sagrada por palavras de auto-ajuda, por argumentação humanística e filosófica, histórias imaginárias sobre o texto bíblico deixando absoleto o ensino genuíno da Palavra de Deus. Parece que a Palavra perdeu sua atualidade. John Stott nos lembra que: "A velha Palavra de Deus é atual porque alcança o homem do século XXI em suas reais necessidades. Fala a sua cultura ao seu contexto - o ecossistema e a preservação da natureza – as questões sociais e econômicas.

A Bíblia é o preceito divino para todos os homens em todas as épocas e em todas as culturas". 3 É através da filosofia institucional comprometida com a Escritura, que a escola  prepara seus alunos para o uso profundo da Palavra relevando o texto sagrado a qualquer outro conteúdo. Deve fazer parte dos objetivos da Instituição o ensino centrado na Palavra, a ênfase na vida devocional e o compromisso pelo exame acurado do livro de Deus. Se esses valores forem adquiridos durante o tempo de preparo, o pregador não se contentará em usar esboços de sermões encontrados na internet, plageando os grandes pensadores, ele aprenderá a primar pela originalidade e a buscar no texto sagrado a mensagem de Deus para o povo. John MacArthur assinala:"Jamais diria que prego teologia sistemática. Prefiro dizer que prego um aspecto da teologia bíblica - a teologia extraída do estudo de um texto." 4 Ele afirma que gasta trinta horas por semana com o estudo da Palavra, se preparando para pregar três horas.  Uma educação teológica de qualidade forma líderes como Apolo - "Poderoso nas Escrituras". (At.18:24)

Uma Educação Teológica de qualidade deve priorizar a formação do caráter

Toda educação tem por fim a formação do caráter - de alcançar o indivíduo na sua integralidade, com o objetivo de tornar o homem um cidadão útil à sociedade. A educação teológica tem uma proposta ainda mais desafiadora. Além de trabalhar com o indivíduo, com um ser psicossocial, afetivo e cognitivo, trabalha com um ser espiritual.

Ela tem a responsabilidade de formar o caráter, não apenas objetivando o padrão social, com os traços que delineiam os valores morais de um cidadão consciente, mas é responsável também pela formação do caráter cristão num nível muito mais elevado - "...Cristo em vós, a esperança da glória"; "...até que Cristo seja formado em vós"; "...até que todos cheguemos... à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo" (Cl 1.27; Gl 4.19; Ef. 4.13).

Até hoje os educadores tropeçam na árdua missão de formar. Com todas as mudanças de paradigmas no sistema ensino-aprendizagem e inovações técnico-metodológicas no sistema educacional, ainda temos uma educação voltada para as funções intelectivas. Como educadores cristãos, nós também temos tropeçado, e, na verdade, formamos em um grau bem insignificante em comparação com o quanto informamos. Como "Platão pressupunha que passamos a conhecer a verdade através da razão, este conceito, traduzido em termos cristãos, relaciona a fé com atividade cerebral" 5

Criar a consciência de valores morais, pessoais e espirituais e conduzir a pessoa para ser capaz de elaborar juízo de valor de modo a decidir por si mesma e agir com autonomia em diferentes circunstâncias da vida é o que devemos objetivar. A prática educativa, seja qual for a sua área tem o papel essencial de conferir a todos os seres humanos, a habilidade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver seus talentos. Para isso, ela deve oferecer oportunidades para que o aluno desenvolva suas potencialidades: memória, raciocínio, o cognitivo, o afetivo, sentido estético, aptidão para comunicar-se e habilidades diversas.

Mas, antes de tudo, o papel do educador é conduzir o aluno a aprender a ser, com o objetivo da realização completa do homem na complexidade das suas expressões e dos seus compromissos, para manifestação da glória de Deus e do seu Cristo. Sabendo que o conhecimento adquirido é para edificação da Igreja no exercício da mutualidade dos seus membros e expansão do reino eterno em todo mundo.

A educação é portanto, ao mesmo tempo, um processo individualizado e uma construção social interativa. Não saber por saber ou para sobrepor-se aos demais, defendendo uma postura clerical exacerbada. Para formar caráter devemos trabalhar com os objetivos atitudinais e obtém-se bons resultados usado a prática da entrevista, tutoria, mentoria e aconselhamento psicológico, buscando a prática do discipulado e da integração grupal, visando a construção equilibrada do ser.

Nas matérias bíblicas, a aplicabilidade das Verdades divinas à vida pessoal é uma excelente ferramenta para alcançar esse objetivo. Para isso, "Precisamos de Professores-pastores e pastores- professores, não de professores ou pastores como propõe o Prof. Carlos Antonio N. Thompson do seminário Palavra da Vida. Os escândalos que presenciamos seriam evitados se os líderes tivessem se submetido a um programa de formação do caráter - os valores cristãos que marcam a nossa identidade. Robert Clinton escrevendo sobre: 'Etapas na vida de um líder', expõe que "Deus trabalha primordialmente no líder, não por meio dele". Seguindo o princípio de que o ministério flui do que se é toma novo significado à medida que o caráter do líder toma corpo e amadurece." 6 Ensinar a ser deve nos preocupar muito mais que ensinar a fazer, pois, o caráter é o que dar forma e caracteriza  o trabalho cristão.

Durvalina Barreto Bezerra é teóloga pelo Seminário Betel. Missióloga pelo Centro de Treinamento da WEC-AMEM, na Austrália. Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Educação pela Universidade Mackenzie. Vice-presidente da AME - Associação Missão Esperança, integrante da diretoria da Missão Antioquia. Diretora do Seminário Betel Brasileiro em São Paulo e Coordenadora Geral do Ensino do Instituto Bíblico Betel Brasileiro. Professora nos Centros de Preparo Missionário da Missão Juvep - Juventude Evangélica Paraibana, Missão Priscila e Áquila e Jami - Junta Administrativa de Missões. Conferencista internacional.

Seminário Teológico do Betel Brasileiro

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