É comum ouvir alguém resmungar que “não sabe o que falar”. A descoberta é meio caminho para a virtude. No entanto, invariavelmente, abrimos a boca assim mesmo.
Seria desnecessário lembrar as palavras de Jesus sobre “o que contamina o homem”, se não fosse clara a avassaladora poluição da mídia com o que “sai da boca” das celebridades da hora. E, por estas razões, foi com surpresa que li uma das entrevistas mais impressionantes dos últimos anos. Exatamente pelo que o entrevistado não disse.
A celebridade entrevistada é o conhecido ator Joaquin Phoenix, Indicado ao Oscar de melhor ator por "O Mestre", em entrevista ao Guardian, publicada no Brasil pela Folha de S. Paulo (25/01/2013). Faço um recorte nas perguntas e respostas:
Guardian – [O filme] “O Mestre" foi muito aclamado...
Joaquin Phoenix - Você está falando a sério?
Guardian – Até que ponto há algo de você em Freddie Quell, seu personagem?
J. Phoenix – Não sei. É difícil. [...]
Guardian – Sobre o que você pensa?
J. Phoenix – [Risos]. Não, não, não, não. Quem se importa com isso?
Guardian – Eu me importo.
J. Phoenix – Muita gentileza de sua parte. Vamos tomar um chá algum dia e então poderemos conversar sobre isso.
Guardian – Há alguma coisa que você queira dizer?
J. Phoenix – Não há nada de especial que eu queira dizer, e, quando tenho, geralmente resolvo o problema telefonando para um de meus amigos.
Phoenix é, no mínimo, modesto. Desconfia dos elogios, não acredita que alguém se interessaria pelo que ele tem a dizer e, de fato, se cala quando é provocado. Qual celebridade, em meio à multidão de microfones, páginas, câmeras e ouvidos à disposição, faria algo semelhante? Imagine o que diria um ex-qualquer-coisa sobre o seu último “trabalho”.
Calar não é para qualquer um. Embora, ironicamente, “até um tolo pode passar por sábio e inteligente se ficar calado” (Pv 17.28). Aliás, a Bíblia está cheia dos que se calaram e mudaram a história.
por Marcos Bontempo